quarta-feira, 29 de março de 2006

Agressão Emocional.

Quando alguém agride outro fisicamente pode machucar, não só o corpo, mas, também, a alma. É uma agressão que dói duplamente.
Há um outro tipo de agressão tão dolorosa quanto a física, porém não tão explícita, é sorrateira, maliciosa e, por natureza, cínica. É a agressão emocional, não a mera agressão verbal, através de palavrões, é aquela agressão feita verbalmente ou por gestos, subliminar ou não, que atinge a auto estima do outro como se fosse um tapa ou soco, que machuca a alma dele e o faz sofrer tanto ou mais que uma agressão física.
Por vezes a agressão física se restringe ao momento e depois passa o seu efeito, gradualmente, mas a agressão emocional não, ela fica repercutindo dentro da nossa mente como se fosse um eco de maldade ferindo a alma cada vez que é ouvido ou lembrado. Há pessoas que usam deste artifício. Eu mesmo, mea culpa, já me peguei fazendo isso. É uma covardia, é condenável, é baixo, porque dói muito e nem sempre a outra pessoa se dá conta do mal que causei, só se dá conta que está triste ou magoada, mas não tem idéia da extensão do estrago e sua origem exata, por isso fica sem saber como se defender. Estou me educando para não ser assim. Observo que há muitas pessoas que são assim, mas não todas, e estou me espelhando nas que não são para que eu possa evoluir espiritualmente e não mais cometer este erro grave.
Quando o corpo é ferido, sangra, mas quando a alma é machucada, algo parecido com o sangue escorre, forma uma ferida que, depois, cicatriza, demora bem mais tempo para cicatrizar que uma ferida no corpo e, algumas vezes, não cicatriza nunca e nunca para de sangrar.
E você, que usa a língua para dar e sentir prazer entre outras coisas, também usa ela para ferir?

domingo, 26 de março de 2006

A Teia. (Parte II do Destino)

Antes da invenção da WWW (World Wide Web) já existia uma outra teia, muito mais antiga, desde que o mundo é mundo. É a teia que é tecida por nós, pessoas, que nos interligamos às outras, ora fazendo uma conexão proposital ou não (familiares, parentes, amigos), ora não se conectando por que não podemos conhecer e nos relacionar com todo o mundo.
À medida que eu crescia fui conhecendo pessoas e notei que muitas delas poderiam ser por mim queridas se houvesse um mútuo interesse em construir uma amizade ou namoro. Há muitas pessoas interessantes ao meu redor, sempre houve, disputando espaço com aquelas sem tempero e também com as pessoas chatas. Diversas vezes me senti como um marionete do destino e da vida, sendo manipulado por fios invisíveis e sutis que se fossem movidos um milímetro pra lá ou prá cá mudariam radicalmente a minha vida. Conheci pessoas interessantes na hora certa e outras interessantes na hora errada, que bom seria se eu pudesse ser o senhor que comanda os fios do meu próprio marionete para mexer um pouquinho prá lá, ou prá cá, e me ajustar aquilo que é melhor ou mais adequado para mim.
Pessoas queridas surgiram na hora errada? Ou surgiram na hora certa para mostrar o que atualmente está errado? Pessoas chatas têm ou não a sua utilidade? Quem sabe são úteis para oferecer um contraponto e me fazer ver como são legais as que são amigas e queridas?
Parte da vida é regida pelo acaso. Ele tem sido misericordioso comigo, me cercando de pessoas ótimas e me poupando das amargas. Não sei até quando serei brindado com esta distinção, enquanto for, aproveito.
Enquanto puder, manipularei os fios do meu marionete, até onde me for dado o direito de fazer isso, e fugirei das aranhas venenosas que habitam esta teia invisível na qual todos nós nos enredamos, queiramos ou não.Que bom que você está aqui. Fazendo conexão comigo. Muito obrigado pela visita. Eu gosto muito de você.

sexta-feira, 24 de março de 2006

Qualquer Amor é um Bom Amor? (Parte I do Destino)

Tempos idos e não mais vindos eu era acometido por um pensamento freqüente que pairava como uma nuvem sobre a minha cabeça: Se eu encontrasse um amor - e sendo fiel a ele - teria de abrir mão de outro amor, uma pessoa tão ou mais interessante que aquela que estava comigo naquele momento? E havia muitas pessoas interessantes no mundo à minha volta e há até hoje. Como saber se aquela pessoa que estava ao meu lado era a ideal, a melhor, a única?
Eu via qualidades em muitas mulheres e não só qualidades estéticas que à época me chamavam a atenção por causa da minha juventude, mas qualidades outras, de personalidade, de alma, que são muito mais importantes que as estéticas, nunca reunidas em uma só mulher, mas espalhadas por várias. O que fazer com um problema desses? Experimentar todas ou quase todas mulheres que estavam ao meu alcance? Impossível. Não tenho e nunca tive a característica de ser um conquistador, e nem tenho o poder de seduzir quantas e quais mulheres eu quisesse. Uma solução seria conhecer a maior quantidade possível para poder optar pela pessoa que no meu entender reunisse as melhores qualidades. Na teoria ótimo, mas na prática não foi isso que aconteceu por questões ao mesmo tempo paralelas e assimétricas que a vida me impôs.
Engoli a sensação de alguém sensacional me escapar por entre os dedos e a tenho até hoje meio engasgada na garganta, de vez em quando me assola a idéia de não ter conhecido a pessoa maravilhosa que estava predestinada a mim e eu a ela, que se encaixava melhor comigo, mas me pergunto: existe apenas uma? Não existem várias? Quem sabe a partir de centenas de mulheres com as mesmas qualidades eu poderia escolher uma para estar ao meu lado e me contentar com isso? Não importa, a sensação me persegue tal qual uma assombração.
Por outro lado tenho o pressentimento que a vontade de experimentar está ligada a falta de oportunidade, é como se eu só quisesse ter a possibilidade de experimentar. Me parece que esta necessidade de variação é biológica, coisa de homem, necessidade de espalhar DNA por onde andar, algo animal e pré histórico. Se eu experimentasse da forma que eu escrevi acima logo me desinteressaria pois veria a inutilidade de tal atitude.
Dúvida, esta é uma dúvida existencial e biológica.
Você já foi assolado por tal sentimento? Não. Você não está na minha alça de mira, relaxe, você só está lendo meu blog... Ahaha.

segunda-feira, 20 de março de 2006

Eu, Herodes.

Nas duas últimas conversas que tive com uma pessoa amiga o tema foi recorrente. Conversamos sobre o hábito que muitas pessoas tem de julgar os outros a partir de suas próprias idéias e convicções. Um hábito que tenho. Me dei conta enquanto conversava com ela nas duas oportunidades. Depois da segunda conversa decidi refletir um pouco sobre o assunto porque me incomodou, fiquei inquieto com a falta de uma idéia clara do que significa julgar o outro de acordo com um código de lei escrito e publicado por eu mesmo, mas não consegui desenvolver as idéias. Sinto que falta elementos para eu pensar sobre o assunto e chegar a uma conclusão. Tem muitos assuntos que eu não tenho opinião formada, este é um deles. Resolvi, então, pedir o auxílio de vocês, comentaristas V.I.P. deste confuso, inconstante e errante blog, para buscar alguma luz nessa treva que me meti. Quem mandou eu resolver pensar sobre algo que eu nem sei por onde começar a pensar?
Dando trabalho aos neurônios, creio que há dois pontos que devemos enfocar: um seria o ato de julgar, atribuição típicamente divina que eu me arvoro a fazer, principalmente quando não estou contente com o comportamento alheio. Seria o ato de julgar algo correto? Não sei, só sei que faço diariamente e me submeto a crítica de vocês por fazer isso que, a princípio, não deveria ser feito. O segundo ponto a se discutir seria qual paradigma usar na hora do julgamento. Cada um tem a sua personalidade, moldada a partir de fotores genéticos, de sua experiência, sua história, que faz de nós únicos no mundo, que loucura seria, e é, se cada um fizer o julgamento alheio baseado em suas próprias idéias e convicções.
Eu preciso de uma idéia inicial para começar a pensar o assunto, me sinto paralisado, sem inspiração para ir além do que já escrevi. Gostaria que todos se manifestassem, não se sintam constrangidos, não vou julgar os que escreveram nem os que se omitiram. Prometo.

terça-feira, 14 de março de 2006

Nada Mais Que Perfeito.

Sou perfeccionista. Ser assim não é bom, eu gasto muito tempo e energia procurando não errar. Isto cansa, são anos assim, desde sempre. E agora? O que fazer com isto? Mudo? Deixo como está?
Esta característica - seria um defeito? - não me incomoda no dia-a-dia, mas, por vezes, enche o saco pois é como uma escravidão. Tudo tem que sair perfeito, sem erros. Se erro, corro para retificar o erro e pedir desculpas se alguém foi prejudicado por ele. Estou cansado desta escravidão. Queria errar mais, ser inconseqüente. Queria que o template do blog não fosse tão retilíneamente perfeito, algumas linhas poderiam ser tortas, desalinhadas, algumas datas poderias ser imprecisas, o texto não precisaria ser revisado à exaustão à procura de erros ortográficos, de concordância ou outros quaisquer.
Eu poderia não listar todos os erros que procuro não cometer no blog... Poderia ser menos preocupado com os erros na minha vida. Deixar de lado o preciosismo que me obriga a retificar tudo que saia um milímetro do eixo do certo. Queria falar umas verdades aos chatos, aos sem educação, aos grossos, sem ter que justificar depois ou maquiar minhas palavras para não serem ofensivas. Errar faz parte da vida, não quero cair no outro extremo de não me preocupar em acertar, o que seria um erro depois de anos de tirania da perfeição.
Bem, para um perfeccionista reconhecer que perfeccionismo é um equívoco já é um avanço... em direção à perfeição, você não acha?

domingo, 12 de março de 2006

Banana & Sentimentos Com Canela.

Na encosta da Serra do Mar, à beira da rodovia BR-101, há plantações de bananas. Elas são colhidas todos os dias e colocadas em um caminhão para que cheguem, ainda verdes, ao CEASA, local que abastece os principais mercados e fruteiras da região. Quando compramos e levamos as bananas para casa, elas já estão maduras, no ponto para serem consumidas.
Os meus sentimentos, por vezes, se parecem com as bananas que citei acima. São até meio tortos como elas. Tenho contato com eles, manipulo-os, falo deles comigo mesmo, mas só consigo consumí-los quando estão maduros na minha cabeça ou no meu coração. Daí para diante eu posso tratá-los de uma forma adulta e racional, conversar sobre eles com as outras pessoas, admitir que estão certos ou errados e tentar modificá-los, se for o caso. Se ainda estão verdes há sensação de insegurança e confusão que me impede de enxergá-los corretamente, não os entendo, não consigo conversar sobre eles com as outras pessoas, a conversa não flui e eles permanecem em um vácuo atemporal dentro de mim.
Os sentimentos, em mim, amadurecem com o tempo, podem amadurecer sozinhos, com a ajuda da vida, de pessoas, amigas ou não, que agem como catalizadores, acelerando a reação de amadurecimento nesta alquimia bioquímica com tempero emocional que inunda minha cabeça com o seu cheiro apetitoso, às vezes, repugnante por outras, como um turbilhão. Mas nem sempre eles amadurecem, por vezes algo que não sei explicar ocorre impedindo que a alquimia aconteça, os sentimentos ficam como um alimento indigesto no estômago e quando tomo contato com eles, no presente ou no futuro, vem uma sensação incômoda de náusea. Nesta hora, ou tento resolver o sentimento ou varro-o para debaixo do tapete esperando que o futuro traga o amadurecimento ou a solução para ele. Se a solução não vêm ele fica em uma gaveta, aquele tipo de gaveta que todos temos em casa, bagunçada, e que sempre arranjamos um bom motivo para não abrir e adiar a sua limpeza.

sexta-feira, 10 de março de 2006

Janelas Com Cortinas.

Todos os dias, quando acordamos, abrimos as janelas de nossos olhos. Não temos que optar. Abrimos, por que temos que abrir para viver. Com elas fechadas não deixamos a vida entrar.
A paisagem que vemos por estas janelas pode ser muito bonita e agradável: céu azul, uma mata bem verde, um riacho de águas claras e límpidas e um sol quente e brilhante que, com a sua luz, ilumina tudo na sua exata cor. Há dias em que este cenário não é tão maravilhoso assim: o céu está nublado, cinzento, a mata ainda é verde, mas parece sem vida, o riacho tem águas mais escuras e profundas e a ausência do sol veste tudo com um matiz escura e triste.
Podemos optar por aquilo que nos dá prazer, fugindo do que nos é desagradável e viver aquele dia, ou aqueles dias, sem olhar a paisagem que estas janelas nos mostram por que o cenário não nos agrada, passamos a focalizar nossos olhos para dentro de nós, buscando no nosso interior um pouco de prazer e conforto que a paisagem lá fora não nos dá. O cenário interno é tão ou mais rico que o de fora da janela: também possui céu, mata, riacho e sol. Os dias no mundo interior, por vezes, são magníficos e, por outras, são cinzentos, tristes, melodramáticos.
Assim como o mundo exterior, este mundo interior permite expedições onde descobrimos a cada dia novas regiões que antes não havíamos explorado, facetas de nossa personalidade que nunca havíamos tomado contato.
Nos dias que passei sem Internet voltei meus olhos para dentro de mim, ainda mais do que faço regularmente. Desliguei o monitor do computador que me mostrava uma paisagem virtual para voltar meus olhos para um mundo real e, também, virtual que existe dentro de mim. Mundo, este, que é meu, rico e gostoso, às vezes amargo e triste, porque não? Mas, sobretudo, meu, o que me faz ter um carinho especial por ele e dedicar um bom tempo desbravando-o.
A exploração deste mundo interior me dá tanto prazer quanto explorar o mundo real que existe lá fora, ou o virtual que a Internet proporciona. Conserto algo aqui, limpo algo ali que há muito precisava ir para o lixo, ou movo algo que precisava ser colocado em um local de destaque numa estante interna. Admiro o que eu ainda não havia me dado conta que era belo ou rememoro imagens antigas de pessoas que não fazem mais parte da minha paisagem, mas que um dia foram muito queridas por mim.
Há muito o que explorar dentro de mim, muitas respostas estão por serem encontradas e, assim como um cientista que avança na sua ciência, quanto mais olho para dentro de mim, mais vejo que há por descobrir.
Os dias cinzentos, tanto lá fora como dentro de mim, não são eternos. Lá fora, de repente, sopra um vento e as nuvens são levadas para longe escurecendo outras paisagens e a paisagem triste é substituída por um sol intenso, luminoso e quente. A verdade é que, hoje, o mundo real não está me proporcionando tanto prazer quanto eu gostaria de ter e o mundo interno é um refúgio agradável nestes dias em que as janelas me mostram uma paisagem sombria e sem perspectiva. Uso o mundo interno como abrigo para este tempo de intempérie e como combustível para revitalizar as forças e soprar as nuvens carregadas para longe.
E a sua janela? Que paisagem mostra? Você, de vez em quando, olha para dentro de si? E olha com a mesma atenção e boa vontade que olha a paisagem de fora? Me mostra um pouco da sua paisagem para que eu possa me deliciar com ela.

quinta-feira, 9 de março de 2006

De Volta.

Desculpa a demora.
O atraso foi maior que o esperado, só superado pela ansiedade em voltar a escrever e compartilhar o meu mundo com você.
Obrigado pela paciência, desculpa por você ter vindo aqui e batido com a cara na porta. Vou me esforçar para que isto não aconteça mais.
Não fiquei parado este tempo todo. Escrevi umas coisinhas, um pouco do meu mundo, um pouco da minha vida e da minha loucura.
Publicarei aos poucos.
Espero que gostem da leitura.
Até logo, ainda tenho que acertar algumas coisas para retornar plenamente.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

Uma Discreta Ausência.

A partir de sábado, dia 14 de Janeiro, ficarei, por algum tempo, sem a minha conexão de Internet, por este motivo o blog não será atualizado durante o período que ficar sem conexão, mas não ficarei parado, vou criar posts enquanto aguardo o retorno da conexão e, assim que ficar online, novamente, postarei aqui e retomarei o ritmo normal de postagens que não é muito freqüente por que evito de postar a esmo, só o faço quando tenho algo de significativo para publicar e contar a vocês.
Durante esta "cyber férias" farei aparições esporádicas e meteóricas na Internet, continuarei a acessar os e-mails normalmente, apenas com respostas mais breves.
Nos encontramos por aí, em alguma destas esquinas virtuais.
Juízo e cuidem-se.
Até breve.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

O Desvio da Via Férrea.

Olhando para trás, na nossa vida, temos várias situações que se assemelham ao desvio de uma via férrea. Se seguirmos por um lado, teremos as conseqüências desta opção, se seguirmos pelo outro lado teremos as conseqüências daquele lado. Qualquer que seja a opção é definitiva porque o tempo não retrocede. Optamos e seguimos em frente. Esta é a lei da vida.
Na minha vida, como na sua, há diversos pontos onde tivemos que fazer uma opção, no meu caso, por vezes, era uma opção determinada pelos meus pais, como o colégio em que eu estudei a minha vida toda, outras opções foram feitas por mim, como o curso na faculdade, ou a carteira de habilitação para dirigir, outras opções foram feitas pelo acaso, destino, ou chame do que quiser.
Estes pontos, onde decidimos algo e, por conseqüência, decidimos o restante de nossas vidas, são determinantes da que vida levaremos, até onde tivermos livre arbítrio para isso.
Seria conveniente ter a opção de retroceder a composição e escolher o outro caminho que nos foi ofertado no desvio, mas não é assim e, devido a natureza humana, é bom que não seja.
Errei na busca de acertar em diversos momentos da minha vida, mas, felizmente, mais acertei que errei.
Inicia um ano novo e com ele renovamos mais uma vez a esperança de optar por caminhos que sejam os mais adequados para nós. Que acertemos na maioria das escolhas, por que em todas não acertaremos, então, que seja nas escolhas mais importantes.
Antigamente era a mão do homem que movia a chave que mudava a direção dos trilhos levando o trem a um outro caminho, hoje é um mecanismo automático. Mas nem sempre a chave é movimentada pela mão ou vontade do homem, por vezes é ativada pela vida, pelo acaso, pelo aleatório, pelo mágico, pelo inexplicável e o trem imaginário que tripulamos é atirado para lá e para cá sem que tenhamos controle sobre ele, a mercê do humor dos astros.
Um dia, uma mão, divina, talvez, mexeu na chave à frente do meu trem e desde esse dia eu nunca mais fui o mesmo, passei a me respeitar mais, a me valorizar mais, me senti rejuvenescido e confiante. Não sei quem ou o quê fez a chave virar e mudar a rota do meu trem, só sei que até hoje sou grato por ser levado a um caminho que eu julgava inexistir para mim, ou que eu não tinha direito a ele, ou que já era tarde demais para trilhá-lo.
Ainda bem que o tempo não volta, se voltasse, talvez eu não fosse brindado com esse desvio tão importante na minha vida e tivesse seguido o caminho que antes estava determinado. Um caminho previsível, entediante e menos feliz.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

Serra do Rio do Rastro.

No início da década de 90 eu tinha uma turma de amigos e, seguidamente, íamos para a praia. Em um feriado de fim de ano daqueles tempos, os que pedalavam resolveram descer a Serra do Rio do Rastro, em Santa Catarina, de bicicleta.
Para lá fomos.
É uma descida de 12 Km, sinuosa, com curvas fechadíssimas e uma paisagem maravilhosa, conforme a imagem abaixo:


No caminho, na BR-101, encontramos um ciclista. Paramos os carros, o cara era australiano e estava pedalando desde a Patagônia, na Argentina, e pretendia percorrer a América do Sul toda de bicicleta. O meu amigo Beto, se comunicou com ele em um autêntico "embromation":




Chegamos ao alto da serra. 1.450m de altura, um visual deslumbrante e logo o pessoal começou a descer.
Eu, prudentemente, desci de carro...




Abaixo uma foto "da galera" em uma das curvas que possuem uma área de escape, sem ela seria impossível os ônibus e caminhões fazerem a curva.



Na parte final da descida, há um posto da Polícia Rodoviária Federal, fomos parados quando voltávamos para casa. Era proibido fazer o que fizemos, por razões óbvias de segurança. O policial pediu que, se quiséssemos repetir a dose, que solicitássemos por escrito a interrupção da estrada para não haver problemas.

Nós, no posto policial, eu sou o bem da direita, mandando uma "banana". Ao fundo da imagem a serra que acabamos de descer.


Com o passar do tempo a turma se separou, foi cada um para o seu lado, uns casaram, outros foram para o exterior e outros perdi o contato. Bons tempos aqueles. Saudade. Uma dose de aventura e de irresponsabilidade. Coisa de adolescente, no meu caso, uma adolescência meio tardia, rsrs.

terça-feira, 27 de dezembro de 2005

Feitos de Silêncio e Sons.

Conciliar a herança educacional de duas famílias nem sempre é fácil.
A minha família tinha suas particularidades. Uma delas era a forma de se comunicar. Sempre singela e discreta, mas carregada de significado e significantes. Poucos assuntos eram tratados explícitamente com todas as letras, a comunicação cotidiana se dava de forma subliminar, subterrânea, ou implícita. Poucas palavras eram ditas. Mais valia um gesto, um olhar e, sobretudo, o silêncio, este falava muito mais que as palavras, tinha mais força que o som, por mais claro e eloqüente que fosse o som.
Esta característica familiar tinha algumas desvantagens. O significado de algum gesto, ou do silêncio, poderia ser mal interpretado e nem sempre esclarecido, perpetuando o mal entendido, ou então, poderia haver omissões, gerando, também, mal entendidos.
Hoje, eu vejo a palavra ser vilipendiada aqui em casa, ela está desvalorizada e vulgarizada pelo uso excessivo, mas o que mais me incomoda não é isto, é que o significado das palavras se vai com o seu uso abusivo. Uma pena. A palavra tinha tanto valor, o som delas me chamava a atenção, era solene e sempre importante. Hoje, o som entra por um ouvido e se perde na caixa craniana, reflete nos ossos, não encontra onde repercutir e se assentar junto com o seu valor e significado. Fica perdida num vácuo de idéias e simbolismo.
Nem o silêncio tem mais o seu ar solene e importante.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2005

O Menino e o Bom Velhinho.

Natal de 1970 - Eu, frente a frente com Papai Noel.


A minha relação com Papai Noel, enquanto criança, era a mesma de uma criança qualquer.
Me lembro bem da mitologia que cercava o Papai Noel. Ele era poderoso, um super herói, aparecia do nada uma vez por ano, trazia presentes que era o que eu mais queria e, depois, ia embora, com a mesma discrição com a qual viera.
Papai Noel representava o bem, o mal, o poder, o mistério, o simbólico, o mítico, o medo, o terror e etc. Nele eu projetava todas as minhas fantasias envolvendo o Bem e o Mal.
Penso que seja bom para todas as crianças, pelo menos em uma etapa do seu desenvolvimento, cultivar esta relação mágica com Papai Noel. Quando adulta, a criança precisará acreditar no impossível, no improvável, no mítico, para enfrentar a dureza da vida.
Sem a possibilidade do impossível que a fantasia do velho de barba branca proporciona quando criança, fica muito mais difícil se viver e encontrar esperança de dias melhores.

terça-feira, 20 de dezembro de 2005

Sem Bússola e Sem Sextante.

Este Natal será o primeiro que passarei sem a presença de meu pai e de minha mãe. Ela faleceu em 2001 e ele, em fevereiro deste ano, 2005.
Eu era mais ligado a minha mãe. A minha personalidade é muito parecida com a dela, o jeito de me portar, o de falar, o de pensar, o de gostar e o de me relacionar com as pessoas e com o mundo.
Do meu pai eu herdei o rosto, sou bem parecido com ele.
Ambos eram um ponto de referência para mim, mesmo quando adulto. Minha mãe era muito sábia e experiente, não que ela tivesse vivenciado tantas experiências assim na sua vida, mas possuía uma capacidade singular de observar o mundo à sua volta, aprender com o que via e interrelacionar tudo isso. Graças à convivência que tive com ela, absorvi os seus ensinamentos que, na maioria das vezes, não me eram passados de forma explícita, quase sempre de forma implícita e sutil, mas com força suficiente para que eu notasse e absorvesse o que ela queria me transmitir.
O meu pai foi pouco presente enquanto pai, foi mais um financiador, mas sempre senti que me amava, assim como a mãe, embora ele tivesse muita dificuldade para transmitir este amor.
Eu poderia ter tratado, ambos, melhor. Sinto que fui muito frio com eles, deveria ser mais afetuoso, mais compreenssivo, mais tolerante, menos impulsivo e menos exigente.
Hoje sinto muito a falta deles, eles eram o meu Norte. Sem eles, me sinto por vezes perdido, sem um paradigma, me sinto desamparado, abandonado, especialmente naqueles momentos em que a vida parece me dar as costas e me abandonar a minha própria sorte neste mar traiçoeiro que é viver.
O Natal é uma festa típicamente triste e este Natal será particularmente um pouco mais triste sem meus pais, mas a vida, ao mesmo tempo que tira, dá. Me deu filhos, lindos. Hoje vivo mais em função deles e do futuro deles, porém não esqueço o passado que serviu para me formar como pessoa e como homem e me permitiu ser o bom pai que sou, fundamental para o desenvolvimento dos filhos que tanto amo.
É muito ruim navegar neste mar sem um pai ou uma mãe, sem uma bússola ou um sextante que eles simbolizavam, só com o senso de orientação nato que tenho e que nem sempre é suficiente para me levar a um porto seguro, longe das armadilhas que existem em cada um dos infinitos mares que compõem a Vida.

Um bom Natal para você. Muita felicidade, saúde e Paz, a você e a todos que você ama.

domingo, 18 de dezembro de 2005

O Meu Farol.

Em um domingo perdido no tempo, quando ainda era adolescente, me deparei com um texto muito bonito e sábio publicado no jornal local. Recortei e guardei. Desde então, sempre que meu espírito está perdido, sufocado, oprimido, ferido, abatido, triste ou desanimado, busco ler o recorte do jornal que tenho guardado.
Assim como existe o farol que guia o navegador à noite, o texto do recorte guia o meu espírito quando ele navega em águas turbulentas, desconhecidas ou inimigas.
Além de guiar, ele reforça e alimenta meu espírito, e acredito que todas as pessoas podem se beneficiar com suas sábias palavras:

"No meio da precipitação urbana lembre-se de que a paz talvez se encontre no silêncio.
Faça um esforço honesto e continuado para se dar bem com todos.
Fale a verdade claramente, mas com brandura e ouça os outros, mesmo os ignorantes e sem brilho: eles terão igualmente as suas estórias para contar.
Evite as pessoas agressivas, que falam alto, pois trazem constrangimento ao espírito.
Se você se comparar aos demais poderá se tornar vaidoso, ou amargo, pois existirão sempre os que estão pior ou melhor que você na vida.
Saiba apreciar suas próprias realizações, seus planos.
Tome gosto pela sua carreira, por mais humilde que ela seja, é o único bem verdadeiramente seu.
Trate seus negócios com muito cuidado pois o mundo está cheio de espertos, mas não endureça seu coração e saiba descobrir o lado bom das pessoas.
Ainda há idealistas neste mundo e por toda parte encontramos atos de heroísmos; seja você mesmo sobretudo, não finja amizade e nem ponha cinismo no amor pois apesar de tudo o que se diz por aí, o amor é eterno. Aceite com doçura o conselho dos anos e saiba renunciar aos hábitos próprios da juventude. Mantenha o espírito galvanizado para agüentar as surpresas da vida, mas não se aflija com imaginações.
O Medo nasce do cansaço e da solidão.
Acima de qualquer autodisciplina, seja generoso com você mesmo, afinal você é filho do universo tanto quanto as árvores e as estrelas e tem todo direito de estar aqui e, embora isso não lhe pareça muito claro, o certo é que o velho universo está se desdobrando por sua causa. Portanto, esteja em paz com Deus ou então com o que você chama de Deus, e, por mais agitadas e extenuantes que sejam as suas atividades neste planeta, entre barulhentas confusões e aspirações de vida, procure conservar a paz de espírito porque apesar de tudo o que anda acontecendo por aí fora, este mundo ainda é ótimo. Você só precisa ter cuidado e fazer seu esforço diário para ser feliz."

(Mensagem encontrada numa igreja de Baltimore, Inglaterra, em 1962, datada do séc.XVII, de autor desconhecido).

terça-feira, 13 de dezembro de 2005

Divino Amigo.

Um amigo de adolescência. Daqueles de ir ao cinema junto, trocar confidências, gravar fitas cassete (alguém lembra o que era?). Desses que a vida leva à uma distância por vezes oceânica e, por vezes, milimétrica tal qual uma mosca que às vezes pousa na nossa pele e às vezes voa distante. Pois ele esteve aqui em casa, ontem. Abraços, aperto de mão, apenas, mas, insubstituívelmente, bons amigos, mas amigos mesmo, não daqueles que se dizem amigos, mas daqueles que são amigos.
Conversa jogada no sofá, entre DVD's, CD's de música, memórias RAM bioquímicas de um HD que está acima de qualquer órgão na cabeça da gente.
Boa conversa, esclarecedora, saudosa e simples, sim, porque se fosse uma conversa complexa deixaria de dar prazer, tem que ser simples. Hoje, ele atende a um chamado Dele, uma iluminação que recebeu, tardiamente, porque só agora estaria preparado para servi-lo.
Mais um ano de curso superior, depois mais quatro de outro curso superior e fará a prova da batina para vesti-la. Eu estarei lá, como uma mosca, aquela que por vezes está pousada na pele, por vezes voa distante e, por vezes, some, não que ela tenha desaparecido, mas que volta para a sua toca, no fundo do coração, se preparando para voar de novo, assim que o sentimento mandar e a cabeça obedecer.
Precisa ter coragem para tomar esta decisão, nem que seja impulsionada pela Luz Divina.
Felicidade, amigo.

sábado, 10 de dezembro de 2005

A Janela do Desejo.

Madrugada
O quarto escuro
Janelas abertas
O brilho das estrelas iluminam a pele dela
A última peça de roupa sai de seu corpo
Entro na atmosfera mágica e misteriosa que ela cria ao seu redor
O tempo se distorce tentando se adaptar ao espaço dela
Como a cortina se contorce maliciosamente flertando com a mão boba do vento que entra pela janela

As estrelas projetam a sombra dela na minha alma e iluminam o meu desejo
Meu coração responde ao ritmo que ela dá ao Universo
E o Universo pergunta o que ela deseja

A madrugada cruza rumo ao Sol
A Lua indica o meu caminho
O olhar dela me faz perder o rumo
As estrelas sinalizam o meu desejo

O primeiro raio de Sol apaga a magia
Ilumina a saudade
Subjuga o desejo
E remete ao passado

Ela não está mais aqui
O passado chegou
O futuro se foi.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

A Árvore de Natal.

Aqui em casa mantemos a tradição de montar a Árvore de Natal todos os anos, nesta época.
Eu lembro, quando pequeno, da minha mãe montando a árvore. Ela não deixava eu pegar as bolinhas com medo que eu as quebrasse e quanto mais proibido era, mais eu me sentia tentado a pegá-las.
O tempo passou, a mãe faleceu e desde a sua morte era eu quem montava a árvore todos os anos. Mas isto está mudando e a tradição está passando adiante. Agora minha filha de 9 anos assumiu a montagem, este ano ela montou pela primeira vez e a árvore ficou linda! Duas bolas de enfeite da árvore ainda são do tempo em que eu era criança e têm, ambas, seguramente, 40 anos de idade, são as duas maiores e mais bonitas bolas e eu as cuido com muito carinho porque a árvore é relativamente recente, tem uns 4 anos, mas essas duas bolinhas não, e elas lembram um pouco a minha mãe, a minha infância e toda pureza que o Natal tem na mente das crianças, mesmo que associado a presentes e ao apelo comercial da data.
O presépio, que fica abaixo da árvore, também tem a idade das bolinhas, alguns personagens que o compõe já se quebraram pois o material ressecou e ficou frágil com o passar dos anos, mas nada que um pouco de Araldite® não cole, cola essa que não precisa ser usada na minha mente porque é bem viva, nela, o Espírito do Natal e a presença agregadora e doce da minha querida mãe unindo a família e espalhando amor por toda ela.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida.

Lembro-me da última vez que me apaixonei, faz algum tempo, mas não tempo suficiente para esquecer a sensação maravilhosa que é me apaixonar, de deslizar pelo mundo como se estivesse em um tapete voador, de achar que tudo está bem mesmo quando o mundo caía a minha volta, de reagir com bom humor às péssimas notícias, de deitar na cama e viajar no prazer que dava relembrar dela, de rir sozinho fazendo os outros pensarem que eu era louco, de ouvir aquela música no PC que lembrava ela e repetir, repetir e repetir até furar o HD, de ficar com as pernas tremendo de ansiedade minutos antes do encontro com ela e de tentar arrumar o cabelo que insistia em ficar em outra posição. Ah! Que sensação maravilhosa, de suspiros inexplicáveis que a cada vez que ocorriam eram como se fossem pequenos orgasmos respiratórios...
Pois agora leio no site da BBCBrasil uma reportagem que diz, resumidamente, o seguinte: "Apaixonar-se tem um efeito semelhante ao provocado por drogas que viciam, de acordo com um estudo realizado pela Universidade Estadual da Flórida e publicado na revista Nature Neuroscience."
E vicia, vicia mesmo, um vício que é delicioso e que a cada dia tenho mais saudade, como tenho saudade de sentar à beira de um rio e observar as águas formando sempre redemoinhos, mas nunca um redemoinho igual ao outro, como as paixões, aquelas transgressoras e inovadoras, sempre maravilhosas, mas deliciosamente diferentes, uma da outra.

domingo, 4 de dezembro de 2005

Eu e os Blogs.

Quando conheci os blogs tive uma primeira impressão ruim, não pelo conteúdo deles que naquela época era mais voltado para a intimidade que hoje, mas porque eu pesquisava no Google uma palavra, ou expressão pouco comum, e acabava em um blog onde a informação não tem nenhum compromisso com a verdade, cada blogueiro escreve o que bem entende sem se preocupar com a repercussão que terá, e eu ficava sem poder acreditar nas informações que lia.
Passado algum tempo, em 2002, eu conheci o blog Querido Leitor da Rosana Hermann. Gostei do blog dela, passei a participar fazendo comentários e logo fiz amizades virtuais com outros comentaristas do blog. Uma das amigas que lá fiz conheci pessoalmente quando ela passou pela minha cidade em 2004. Outras amigas que se conheceram no mesmo local até hoje se encontram, freqüentemente, apesar de morarem em cidades distantes ou no exterior. A amizade delas é bem sólida e é um prazer acompanhar os encontros delas que se realizam em uma cidade ou outra.
Li muitos blogs dos amigos que fiz e nunca me deu vontade de ter um blog e escrever nele como me deu agora.
Eu entendo que um blog se assemelha a uma pessoa, tem o seu tempo de nascer, se desenvolver e de morrer. Vai chegar um dia em que não haverá mais sentido em escrever neste blog e ele morrerá, enquanto isso, aproveitarei o tempo que ele está vivo, para expressar em forma de palavras os meus desejos e necessidades que nem sempre são claros e que muitas vezes são desejos de outra ordem que se sublimam na forma de palavras.
Escrever aqui é mais ou menos como transar comigo mesmo, onde as palavras são a mão e o ato de ler, o clímax.