sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Eu? Nuco!

É bom ser homem. É bom viver, desfrutar dos prazeres das coisas simples da vida: uma boa comida, um banho quente, uma boa conversa, a companhia dos amigos, ouvir uma bela canção, ver um filme legal, ler um livro que prende a atenção, dormir quando se está com sono, e, claro, o embate de Eros.
Desde a minha adolescência quando os hormônios tomaram conta do jogo no meu corpo que me tornei escravo do desejo sexual, minha atenção se voltou às mulheres eu querendo ou não, meu olhar ficou hipnotizado para sempre por elas. Quando ando na rua é como se eu possuísse um software programado para que eu só visse as mulheres e os homens fossem apagados da minha visão, quando converso com uma mulher, ao mesmo tempo que converso, penso nela como mulher e se eu teria ou não chance com ela.
Casei, mesmo depois de casado o desejo permaneceu presente como em todo homem normal, o problema da saciedade foi resolvido com a disponibilidade e a freqüência, ainda assim o incômodo do desejo permaneceu, porque ele incomoda, escraviza, obriga, não dá refresco. Em uma reunião de trabalho ou mesmo na rua, onde quer que eu esteja os meus olhos percorrem territórios femininos sem permissão, esquadrinham colos, pernas, retaguardas, mãos, olhos, como se eu fosse um robô programado para vasculhar e descobrir entidades femininas que fossem interessantes, desejáveis, conquistáveis. Um sorriso feminino dirigido a mim dispara a minha imaginação, um elogio feminino me faz perder o rumo.
Cansa. Pode parecer absurdo, contraditório e inexplicável, mas cansa ser dominado por esse desejo. Eu queria ser livre, desejar quando quisesse, não precisar olhar hipnoticamente para todo ser de cabelo comprido com batom nos lábios e brincos nas orelhas, queria poder me desligar por um tempo, ver o mundo com mais isenção, ver uma mulher primeiro como pessoa antes de vê-la como mulher, ouvir a voz dela e não imaginar tudo o que me passa pela cabeça - e como me passa! Queria não ter que precisar me aliviar de tempos em tempos, por vezes em momentos e em locais inadequados porque o reator interno atingiu uma temperatura elevada e se eu não o fizer parece que vou explodir da tanta "tensão".
É bom desejar, mas desde que acompanhado da devida saciedade, desejar sem poder satisfazer a vontade é enlouquecedor.
Eu quero ser livre para poder ser humano antes de ter que vestir a roupa de homem quando acordo todos os dias e até nos meus mais profundos e bem guardados sonhos.
Eu queria não desejar.

4 comentários:

Anônimo disse...

Sei bem como é isso!
Mas não sei se gostaria de não desejar: seria uma outra pessoa, não eu!

Dois Bits de Prosa disse...

É cansativo, mesmo!
Obrigado pela visita.

Marisa disse...

Adoro sua sinceridade.

Dois Bits de Prosa disse...

Obrigado, Marisa, apareça mais.