sábado, 17 de fevereiro de 2007

Ansiedade, Tremor e Chatos.

Uma das minhas atividades no emprego atual é atender clientes, e me chama a atenção a quantidade de clientes que atendo que são ansiosos ou que estão com as mãos tremendo.
Os ansiosos geralmente são homens, com idade superior a 45 anos, apressados, impacientes, que jogam uma lista de pedidos em minha direção. Tenho que ter tato para lidar pois são pessoas que, na maioria das vezes, estão, além de ansiosas, com impaciência e intolerância. Eu imaginei que a ansiedade fosse uma característica do jovem, mas me surpreendi com a quantidade de homens acima dos 45 anos que demonstram ansiedade à minha frente, e não se trata de ficar ansioso porque estão diante de mim, é uma característica destas pessoas.
Quanto aos jovens, noto que alguns deles tem tremor nas mãos, não são drogados ou com síndrome de abstinência, são pessoas sóbrias que tem esta característica e que acabam me deixando um pouco perturbado porque tenho a impressão que vão deixar cair o que seguram nas mãos, são, na maioria homens, entre 25 e 35 anos.
Ainda bem que estes dois grupos são minoria, porque me desagrada atender pessoas assim, mas tem piores, os chatos, estes são insuportáveis, não são os chatos que tiveram um dia ou noite ruim, são os chatos profissionais que sempre que aparecem fazem questão de serem chatos, de incomodarem, de pedirem o impossível e não entenderem que o que pedem não existe ou está em falta, destes, a vontade é de não atender, pois desgastam demais. A tática que uso para não me incomodar com eles é não me deixar levar pela chatice, não embarco na onda do cara e nem aceito o convite para a dança que ele me propõe, dito o ritmo do atendimento de acordo com a minha necessidade e o chato que amargue sua chatice. Bem longe de mim, claro.

domingo, 11 de fevereiro de 2007

Carnaval.

"Vou beijar-te agora
Não me leve a mal
Hoje é carnaval".


Sou indiferente ao carnaval, quando adolescente era uma época ruim porque eu era tímido e me sentia pressionado pela data e pelo grupo de amigos a me aproximar das meninas, eu era ainda mais inibido do que sou, esta pressão me causava desconforto e até períodos de depressão. Com o passar do anos o significado do carnaval mudou um pouco, para mim, e deixou de ser um evento eminenetemente erótico para ser uma festa popular, um espetáculo, o que aliviou a pressão interna em mim, mas não apagou as lembranças de um período ruim da minha vida, sinto que desperdiçei parte dela em dilemas internos, uma pena, mas que serviram para construir a minha personalidade como é hoje.
Não assisto o carnaval pela TV, apenas dou umas olhadas nos resumos dos telejornais. Se for o caso vejo uma ou outra escola carioca desfilar, mas é raro.
E você? Como se relaciona com o carnaval? Tem alguma história legal para contar?

Só.

Quando eu nasci minha mãe tinha 44 anos de idade e meu pai 42. Eles não gostavam de sair de casa, passear ou visitar amigos, tinham poucos amigos e nenhum desses tinha filhos com a minha idade. Tenho a impressão que fui cuidado por avós e não por pais pela idade deles e pela forma que me educaram. Me acostumei a ser só, brincava sozinho quando criança, lia livros, escutava música em discos de vinil e assistia televisão, preto e branco naquela época. Sempre preferi poucos amigos e amizades próximas do que muitas amizades ou grupos. Por causa disso, preciso, eventualmente, estar só, buscar em mim o meu espírito e minha identidade. Quando a vida ou qualquer circunstância me obriga a não estar só por longo tempo me sinto mal, parece que sou levado pela vida e fico incomodado com isso.
Reservo o horário de dormir e as minhas caminhadas matinais para ficar só e colocar as idéias e sentimentos em ordem, pensar sobre a minha vida e projetar o que farei adiante. Sozinho. É como se fose um defrag na mente, organizando os arquivos mentais lado a lado.
Este blog, de certa forma, reproduz esta minha caracteristica de ser só, não fiz questão de divulgá-lo nos mecanismos de busca, apenas para pessoas conhecidas e, recentemente, em locais que freqüento na Internet. Há pouco movimento aqui, baseado nos comentários que é única forma que tenho de saber se é ou não acessado, pois não uso ferramenas que identificam quem aqui acessa. Apesar deste ar de solidão, gosto deste local, me sinto bem em escrever estas mal digitadas, é como se fosse um depósito de minhas idéias e fico feliz em ler os comentários, sinal de que é uma solidão aparente. Não gosto de estar só, sempre, não me faz bem.
Ficar sozinho, para mim, é fundamental para manter a minha estabilidade emocional e a saúde de minhas relações afetivas, mas não sou eremita, estar com pessoas é o principal motivo que me faz feliz hoje em dia e necessito delas para me sentir vivo.
Não sinta-se só, aqui, estou presente sempre, lendo comentários e pensando sobre o que escrever aqui.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

A Pracinha Vazia.

Silêncio...
A TV desligada.
Silêncio...
O computador desligado.
Silêncio...
O vídeogame desligado.
Silêncio...
A cama deles vazia, os brinquedos e bonecas guardados.
Meus filhos foram viajar, passarão uma semana fora e essa casa se parece com uma pracinha vazia. Está triste, sem vida, apática e estes sentimentos me contagiam.
Em mais de dez anos esta é a primeira vez que fico em casa sem eles. O mais difícil é de noite quando vejo a cama deles arrumada sem eles dormindo. Um dia será assim, irão namorar ou casarão e ficarei aqui sem eles, serve como um test drive e já estou sentindo agora a saudade que vai me bater no dia que eles saírem definitivamente de casa. Eu procuro prepará-los para serem independentes, terem suas casas, formar suas famílias, gerenciarem as suas vidas e a dos filhos deles, mas esqueci de me preparar para viver sem eles.
Falta tempo para que eles saiam de casa, mas é melhor eu ir me preparando, não custa nada, quero dizer, custa muito: imaginar a minha vida sem eles, a saudade e a solidão que se seguirá.

domingo, 21 de janeiro de 2007

O Lado Escuro Do Sol.(Parte III Do Destino)

É difícil falar sobre os nossos defeitos, primeiro tem que se admitir que os tem, e eu os tenho, com toda certeza, depois vem a etapa de identificá-los que é a mais difícil para mim.
Os meus defeitos não são facilmente visíveis, faço um esforço para que eles não apareçam no dia a dia, mas, vez por outra, aparecem, de surpresa, inconvenientes, subterrâneos e sabotadores.
O meu pior defeito é não saber lidar com a raiva, ela cresce dentro de mim e quando não a suporto mais deixo-a sair com força, cruel, devastadora, injusta e desproporcional. E não é de hoje que tenho esse defeito e não é de hoje que tento mudar meu comportamento para que ele não prejudique mais as pessoas que eu gosto e que estão à minha volta. É uma característica muito infiltrada em mim, não consegui até hoje ser diferente, mas um dia conseguirei, como já consegui mudar minhas atitudes em várias outras áreas.
Queria ser mais maduro, não deixar a raiva crescer e fazer mal a mim e a quem ela é dirigida, quem sabe dosar melhor? Conversar civilizadamente antes da raiva assumir proporções incontroláveis? São tentativas que farei desde já. Por causa desse meu jeito de ser tive problemas no final do ano passado, magoei pessoas que eu gostava, perdi amizades, descobri pseudo amizades, conheci pessoas e fui ajudado por quem eu nunca imaginei que poderia me ajudar. Apesar de alguns ganhos, o saldo foi negativo e por isso quero desde já não mais agir de forma infantil no trato da raiva. Me envergonho de ser assim.
Outro defeito meu é de ser manipulador para conseguir o que eu quero, também não sou assim sempre no meu cotidiano, só às vezes. Não sou mau o suficiente para machucar as pessoas deliberadamente, mas, por vezes, uso métodos não éticos para obter o que eu quero e isso me incomoda, queira eu ou não acabo prejudicando as pessoas com essa forma de proceder.
Tenho dificuldade em cultivar amizades, já não consigo fazer amizades facilmente e as que tenho cuido com pouca responsabilidade, queria dizer a todos os meus amigos o quanto gosto deles, mas nem sempre consigo, e o cúmulo da incoerência: acabo cobrando deles que se portem assim em relação a mim!
Não me valorizo tanto quanto deveria, costumo me ver menos do que sou, não sei se isso é um defeito, mas sei que isso me atrapalha.
Tenho pouca iniciativa, queria ter mais, ser mais dinâmico, não sou parado, apenas queria me mexer mais, ter mais vivacidade.
Uma leve dificuldade para olhar nos olhos, medo de encarar o outro, uma dificuldade que eu consigo controlar bem, quando me dou conta que fujo do olhar eu procuro mirar nos olhos do outro e consigo.
Um outro defeito talvez seja o de não poder reconhecer mais defeitos em mim. Um último defeito, por enquanto: me apaixono facilmente.
Esse post não é definitivo, à medida que vou identificando mais defeitos vou escrevendo novos posts dando seqüência a este.

sábado, 20 de janeiro de 2007

Um Software Para Velórios.

Ontem foi um dia triste, daqueles que eu passei com um choro preso na garganta, foi-se um tio que eu gostava muito, que contava histórias, era alegre, vivia de bom humor, daquelas pessoas que sempre que lembro me faz sentir bem. Agora lembrarei com saudade, nos deixou e eu passei o dia de ontem revivendo os bons momentos que tive com ele, suas histórias alegres e seu espírito prá cima.
No velório pude rever parentes e amigos que há muitos anos não via, alguns há mais de vinte anos. Para uns o tempo parece não passar, para outros passa rápido demais, e tive dificuldade para me lembrar de todos, embora os conhecesse. Preciso de um software de reconhecimento facial embutido em mim daqui para a frente.
Tenho muitos tios e todos idosos, essa é a realidade: lidar com a morte deles e o sentimento de vazio que deixarão.

domingo, 14 de janeiro de 2007

Navegar Impreciso.

Se era para amar, por que não amou?
Se era para ser amigo porque acabou?
Se era para ser porque não foi?
O que será que houve?
O que não houve?
Você me ouve?
A forma não importa
O conteúdo exporta
O desejo que oprime
O gozo que liberta.
Solitário na ilha
Mando uma mensagem
Cujas palavras
Nunca encontram os gestos.
O tempo avisa
A hora acaba
Sigo navegando
Precisando...

sábado, 13 de janeiro de 2007

Mas, Afinal, Quem Sou Eu?

Como toda pessoa eu falo de mim, penso sobre mim e até escrevo sobre mim.
Noto que nos últimos tempos há uma divergência da imagem que faço de mim mesmo e das minhas reações aos estímulos do mundo e da vida, parece que eu não me conheço tão bem quanto eu imaginava, reajo de forma diferente da que eu reagia no passado às situações corriqueiras e isso tem me intrigado, não esperava reações diferentes das que eu previa por achar me conhecer bem.
Eu era uma pessoa mais introspectiva do que sou hoje e, por causa disso, me via de forma mais real do que me vejo hoje porque dedico menos tempo para lançar um olhar sobre eu mesmo. O tempo tem passado, a história tem mudado e eu não tenho acompanhado o meu ritmo. Me desenvolvo, mudo de pensamento e de opinião mais veloz que consigo acompanhar, parece uma coisa louca, mas o cachorro está a cada dia com a boca mais afastada do rabo na tentativa de mordê-lo e isso me angustia porque eu sempre fui muito controlador de mim mesmo e me ver agir de um jeito e pensar sobre mim de outro me dá um nó interno.
Eu preciso fazer um update na forma de me ver, dedicar um pouco mais de tempo para refletir sobre eu mesmo para que não ande em descompasso e recuperar um pouco do auto controle, mesmo que isso acarrete em um desgaste interno. Mas me pergunto: vale a pena ser tão auto controlador? Não seria melhor deixar o barco navegar mais solto?
Preciso fechar um pouco as cortinas do mundo externo e abrir a janela para o meu mundo interno, há paisagens nele que ainda não visitei por falta de tempo...

Desapego.

Eu era uma pessoa muito apegada aos outros e aos objetos. Quando eu me relacionava com eles ia logo me afeiçoando e me ligando de uma forma mais forte que o normal, provavelmente para conseguir a atenção e o carinho dessas pessoas para mascarar a minha insegurança que provinha da minha baixa auto estima. Sem termos técnicos, eu precisava me alimentar da relação afetiva com os outros para me sentir gente, querido e amado. O tempo passou e eu fui me desenvolvendo, tardiamente, confesso. Hoje em dia já não tenho mais tanto apego às pessoas e aos objetos que me fazem mal ou cuja relação não é saudável, como eu tinha no passado. Tenho me desapegado deles e notei que sobrevivo a isso, não sofri como eu previa que sofresse e as outras pessoas não passaram a me odiar por causa do meu desapego a elas como eu pensava que ocorreria. Consigo me distanciar das pessoas e dos objetos com mais facilidade, menos boicotes internos, mas, ainda assim, sou um ser humano como qualquer outro e sinto saudade daqueles ou daquilo que um dia me foi importante e os conservarei para sempre em um lugar sagrado dentro do meu coração.

sábado, 6 de janeiro de 2007

6 De Janeiro de Qualquer Ano.

Hoje é um dia de dupla comemoração.
Um grande amigo está de aniversário, daquelas amizades que atravessam o tempo e os continentes, liguei para ele hoje pela manhã para parabenizá-lo, estava longe, em um estado vizinho em viagem a passeio.
Grande abraço, Macaco.
O outro motivo de comemoração pertence ao terreno escorregadio e volátil da paixão, aquela que surge do nada, que transforma, que enlouquece, que muda a gente e que faz o tempo ser relativo e a nossa vida singela.
Parabéns a nós.

domingo, 24 de dezembro de 2006

Formatura.

Na semana que passou meu filho se formou na Oitava Série do Ensino Fundamental, foi uma cerimônia simples.
Durante toda a semana, e no dia, eu revivi a minha formatura e um pouco do que eu sentia quando tinha quatorze anos, minhas dificuldades existenciais, meus sonhos, minha visão de mundo de um cara que estava entrando na adolescência com o turbilhão de idéias que há na cabeça de um jovem.
Eu sinto meu filho melhor que eu quando eu tinha a idade dele, mais solto, aproveitando melhor a vida, não muito, porque parte do meu jeito ele herdou, que o faz um rapaz quieto. Ainda assim, sinto que ele tem mais desenvoltura para encarar a vida e suas dificuldades. Que bom que seja assim, pois me lembro das dificuldades que passei para me tornar adulto e não quero que ele passe pelas mesmas, embora sejam, em parte, necessárias para ultrapassar a fase de criança e chegar a ser adulto.
No final da cerimônia dei um abraço nele, longo o suficiente para lembrar do meu passado, mas curto o suficiente para que as lágrimas ficassem dentro dos olhos.

sábado, 16 de dezembro de 2006

Feliz 2006.

Um post atrasado, não errei o título, mas só agora pude me sentir feliz como há muito tempo não me sentia.
2006 começou mal, no primeiro dia útil um mau presságio: fui fazer uma visita de negócios, não deu nada certo e nem dinheiro fiquei para voltar de ônibus, sinal de que não seria um ano fácil, e não foi. Desde o primeiro dia de 2006 a minha situação financeira e existencial só piorou, em Julho procurei um amigo para tentar um emprego, em Agosto atingi o pior momento do ano, falta de grana, desentendimentos em casa, um inferno. Em Setembro a boa notícia do ano: o amigo que eu havia procurado me ofereceu emprego, assim que comecei a trabalhar pude recuperar a minha felicidade, não toda porque ainda falta um tanto, recuperei a minha auto estima, pude pagar as contas em dia, renegociar as contas maiores que estavam atrasadas e acertar os ponteiros de minha vida afetiva e familiar.
Um ano que começou no fim, que vou lembrar pela sua dureza e, também, pela felicidade de ter me recuperado como pessoa.

Tempo Triste.

Eu mudei a forma pela qual eu via o Natal, quando criança eu o via como toda criança vê: uma oportunidade de ganhar presentes, morrer de medo do Papai Noel e comer comidas "exóticas", depois, o Natal mudou o seu significado e simbolismo para mim, percebi o sentido dele e, aos poucos, fui cedendo à emoção da data, é um momento de reflexão onde eu me torno mais sensível, reflexivo e saudoso.
Sinto falta da minha mãe mais do que durante o ano todo. Nos Natais em que ela era viva não fazíamos grandes festas, passávamos em família, nós quatro, sem grandes comemorações, mas era um momento silenciosamente emotivo, na minha família muito era comunicado sem palavras e gestos, era algo que ficava "no ar" e eu captava tudo, ela foi a referência de pessoa, de mundo e de vida, para mim, e se sou uma pessoa, hoje, o sou graças a ela. É o momento do ano em que eu fico mais triste, uma tristeza silenciosa, assim como era a nossa comunicação entre família: silenciosa, delicada, profunda e... saudosa.
Te amo, mãe, esteja onde estiveres.

Boa De Bola.

No mês passado, minha filha estava jogando bola no recreio do colégio público onde ela estuda quando um "olheiro", professor de Educação Física, a viu jogando e gostou do futebol dela, a procurou e a ofereceu uma bolsa de estudos em um colégio particular, caso ela participasse da escolinha de futebol desse colégio.
Ela conversou conosco, aprovamos inicialmente a idéia e conversamos com o Prof° que fez a proposta, em outro dia ele compareceu à escola da minha filha, fez um teste com ela e foi aprovada! Ganhou a bolsa, agora vai estudar, novamente, em uma escola particular conhecida de nós e mais próxima de nossa casa.
Ela ficou muito feliz, deverá treinar duas tardes por semana e realizar viagens, gratuitas, com a escolinha de futebol. É um presentão de Natal para ela que gosta de jogar bola desde pequenininha e nós estamos todos felizes por ela estar feliz, estudando em uma escola de qualidade e fazendo o que mais gosta: jogar futebol.
Mais um pouco virarei empresário e vou oferecê-la a um dirigente de um grande clube europeu!

sábado, 4 de novembro de 2006

A Hora de Parkinson.

Não sei bem porque, mas sempre que estou no balcão gosto de atender pessoas idosas, hoje entrou um senhor, de idade avançada, caminhar rápido, mas instável, veio com uma sacolinha de uma famosa rede de lojas de CD's da cidade, retirou de dentro da sacolinha dois relógios de cabeceira, pequenos, se desculpou pela tremedeira nas mãos por causa do Mal de Parkinson, me pediu para trocar as pilhas e ajustar para o Horário Brasileiro de Verão que começa amanhã, à zero hora, porque as mãos trêmulas impediam-no de trocar as pilhas e ajustar a hora. Rapidamente minha cabeça e coração puseram-se a funcionar: um senhor idoso, bem vestido, que provavelmente morava sozinho, com dificuldade para manusear objetos, mau hálito, já que não podia segurar firmemente uma escova de dentes. Aos poucos fui tomado por uma emoção sem explicação, uma sensação que começou vaga e foi crescendo dentro de mim, não sei por quê, mas o senhor idoso e sua realidade me tocaram profundamente, fiquei com vontade de chorar e por pouco não chorei ali mesmo, no balcão, depois de atendê-lo.
De vez em quando me pego emocionado como hoje, do nada, ou melhor, do tudo, não sei se fantasiei demais sobre a vida daquele senhor, mas sou muito intuitivo, raramente erro, e a minha alma sentiu o lado humano e puro daquele senhor. Que atividades ele desenvolveu ao longo da vida? Que emprego teve? Teria filhos? Moraria sozinho, mesmo? Que CD's vieram dentro daquela sacolinha?
Ele se foi, com ele as respostas para estas questões, mas a emoção, minha, ficou, tomara um dia poder revê-lo, talvez eu possa fazer uma dessas perguntas a ele, nem que seja em Fevereiro, quando o Horário Brasileiro de Verão acabar. De repente lembrei de meus pais, falecidos, me tomo por uma culpa por não ter feito mais por eles enquanto vivos e velhinhos, minha mente sabe que fiz o que pude e mais um pouco por eles, mas sempre me cobro ter feito mais, sentimento de culpa insaciável e incansável. Será que aquele velhinho representou meus pais e o meu sentimento para com eles? Vou ter todo o Horário de Verão para pensar sobre isso.

sábado, 28 de outubro de 2006

Paitio.

Dia desses um amigo se tornou pai. Conversando com ele eu falava da necessidade do homem ser, verdadeiramente, um pai ao lado do seu filho e não um "tio" como muitos pais são: mal participam do desenvolvimento do seu filho durante a semana, a pretexto de estarem cansados, só saem e brincam com os filhos no final de semana quando batem uma bolinha com eles na pracinha ou vão ao shopping passear.
Felizmente tive a oportunidade de ser um pai completo para meus filhos, desde que nasceram eu faço tudo por eles e com eles, quando nenês trocava fralda, fazia e dava mamadeira, colocava para dormir, dava banho, escolhia e trocava de roupa, levava à pediatra, para vacinar, cortava as unhas, acordava de madrugada para ver se estavam bem pois a esposa tem um sono pesado, media a febre e medicava durante a madrugada, entre outras diversas atividades que me aproximam dos meus filhos de modo a eu ser, provavelmente, a pessoa que os melhor conheça.
Fiz tudo isso porque sou assim, entendo que ser pai é vivenciar cada momento do seu filho sem frescuras, não que a minha esposa fosse ausente ou omissa, eu é que abri meu espaço ao lado dela nos cuidados aos filhos participando ativamente do dia a dia deles desde o nascimento.
Por tudo isso me sinto um pai responsável e participante da vida de meus filhos, ciente de que dei, até hoje, o que pude para contribuir com o crescimento deles, o que reforça o amor que sinto por eles e, provavelmente, o amor que sentem por mim.

domingo, 22 de outubro de 2006

Quatro e Um.

Cheguei a um ponto em minha vida que o futuro e o passado estão equilibrados nos meus pensamentos, antes, eu pensava mais no futuro, o meu passado era pouco significativo, não tinha muitas histórias para relembrar e o futuro era mais questionador para mim. Agora, mudou, há um equilíbrio entre os dois tempos.
Me pego pensando no passado, freqüentemente, relembrando histórias boas, outras ruins e algumas hilárias de dar gargalhadas. Às vezes penso naqueles que não estão mais aqui, mas que me foram importantes, ou em outros que passaram pela minha vida e deixaram marcas saudosas, de certa forma já tenho uma razoável bagagem e, por vezes, ajudo quem é mais jovem a ver a vida e o mundo de uma forma um pouco diferente, com um viés mais experiente.
Quando me olho no espelho vejo algumas rugas, não tanto quanto outras pessoas da minha idade, talvez as rugas não sejam muitas em meu rosto porque levo a vida de um jeito leve, encaro-a positivamente e costumo me relacionar com o lado bom das pessoas, o que deve ter me levado a pouco desgaste interno ao longo destes anos.
Me sinto equilibrado nesta época da minha vida, menos ansioso e impetuoso como era na juventude, mais sereno, confiante e ciente de onde estou no mundo e na vida daqueles que de mim gostam e que eu também gosto. Finalmente, uma época onde posso curtir a vida sem pensamentos e cobranças internas desgastantes. Mas estas vantagens acima tiveram um preço, fisicamente não sou mais o que eu era, na hora de ver algo pequeno bate a "Síndrome do Braço Curto" e tenho que afastar o objeto dos olhos, alguns cabelos brancos apareceram e, também, me sinto cansado ao final da noite, coisas que antes não aconteciam, um preço justo que o tempo cobra e que tenho prazer em pagar.

sábado, 21 de outubro de 2006

Eu, Filosofia & Religião.

Na minha juventude eu sentia necessidade de ler, aprender e debater sobre filosofia, religião e outros assuntos abstratos. Lembro de, na faculdade, puxar conversa com professores destas áreas, ler na biblioteca sobre esses assuntos e trocar muita idéia com os amigos mais próximos, era uma fome que eu precisava saciar. Com o pouco que li e conversei formei os meus conceitos sobre os dois assuntos que permanecem comigo até hoje.
Sobre religião: fui batizado na Igreja Católica e fiz a Primeira Comunhão, meu colégio era católico e a faculade, também, tive formação católica durante todo o meu período letivo, porém, como nunca freqüentei a Igreja, não posso ser chamado de católico só porque cumpri com esses dois rituais e freqüentei essas escolas. Tenho a minha própria forma de acreditar e entender a religião, não gosto da parte da religião que é feita e mantida pelos homens, que diz o que pensar, como se comportar, como se vestir e, sim, daquela parte mítica, sábia e engrandecedora do espírito que está escrita nos livros e permeia os espíritos mais evoluídos, para mim essa é a verdadeira religião por ser um contato direto com o Absoluto.
Sobre filosofia: comecei a formar meu substrato filosófico desde cedo, vendo, observando e comparando as diferentes filosofias que tive contato nos livros e através das grandes pessoas que passaram pela minha vida. Acredito em conceitos e valores como Vida, Amor, Liberdade, Igualdade, Livre Arbítrio, Responsabilidade entre outros. Interessante observar que à medida que eu envelhecia a fome por assuntos abstratos como religião e filosofia diminuía, hoje, não sinto nenhuma necessidade de pensar e discutir esses assuntos, é como se a lacuna que existia em mim tivesse sido preenchida com o que eu apreendi e me dou por satisfeito com as respostas que obtive, sei que muitas destas respostas não são definitivas e algumas delas são provocadoras de outras perguntas, mas, por enquanto, está bom, até que haja uma mudança significativa na minha vida que me faça rever os conceitos que tenho sobre filosofia e religião.

sábado, 14 de outubro de 2006

Na Cama, Onde Se Come A Carne.

Estava sentado à minha mesa de trabalho quando ela se aproximou com um documento à mão para me pedir uma explicação, ao chegar perto de mim ela se inclinou, tocou o seu seio no meu ombro e o deixou ali, enquanto conversava...
Por causa do toque minha visão e audição imediatamente distorceram, minimizaram e, por fim, pifaram, apesar das minhas tentativas de fazê-las voltarem a funcionar e restabelecerem o contato com a realidade.
Eu estava refém de um seio, grande, macio e quente como uma brasa que queimava meu braço e avermelhava meu rosto, me deixava incomunicável e cego. As tentativas corporais de enrijecimento da atenção não deram em nada, pelo visto funcionaram, mas em outra parte do meu corpo que não no cérebro, e o seio continuava, maliciosamente, a ser esfregado no meu ombro como que comandado pelo sorriso enigmático de sua dona.
Como eu não enxergava o documento e nem ouvia mais nada que ela dizia, me rendi ao surto erótico que fui tomado e desisti de contatar a realidade, me entreguei, lânguidamente, aquele toque erótico que me colocava em nuvens de desejos calientes.
Desperta o rádio relógio ao som de "Moonlight Serenade", o mostrador dele, um carrasco de personalidade sádica aponta 5h e 45min da manhã.
Eu desperto com a sensação de que será um dia de trabalho interessante, principalmente quando eu não puder mais contatar com a realidade...

quinta-feira, 12 de outubro de 2006

A Fada Das Lágrimas.

Período do futuro da Humanidade, toda a civilização da Terra sofre transformações culturais, sociais e antropológicas profundas. Experimenta uma invasão maçica da tecnologia que se intromete no dia-a-dia das pessoas, nos seus lares, locais de trabalho, escolas, na rua, nas estradas, no campo, trazendo para elas a frieza e a superficialidade nas relações humanas, o imediatismo para a realização de todos os desejos, o amor interesseiro e fugaz, a ditadura do dinheiro que reveste o rico de valor sobre humano e faz do pobre não humano.
O Homem se coisifica e as máquinas se humanizam, tomando o lugar do ser humano em qualquer tarefa que possa acarretar um mínimo de sofrimento físico ou psicológico.
O Homem não sofre mais, não experimenta emoções extremas, prefere o comodismo do não sentir a ter que vivenciar as emoções ancestrais que nesse novo tempo não têm mais lugar pois são consideradas um fardo por que atrapalham o espírito hedonista da nova sociedade. Por conta disso os Homens começaram a parar de chorar, já que o sofrimento físico ou psicológico era minimizado ou inexistente, o choro ficara reservado às crianças por causa do instinto, mas que logo que cresciam eram desestimuladas a chorar, também pudera, todos os seus desejos eram saciados fosse de uma forma real ou virtual. Até que os seres humanos não chorassem mais, desaprenderam, pois não mais se sentiam tristes ou saudosos ou dolorosos em sua alma.
A Terra ficou mais triste, apesar dos Homens viverem alegres em sua sociedade artificialmente feliz, pelo menos a Terra podia chorar através da chuva. O Homem não. Foi quando deu-se a transformação.
O Espírito Humano que habitava a Terra desde que o homem surgiu estava agonizando, prestes a ser extinto, sufocado pelo Espírito Hedonista que reinava na Terra. Este Espírito Humano, secular, agrupou suas últimas forças e criou a Fada Das Lágrimas, um ser feminino, de roupas vaporizadas, hora transparentes, hora translúcidas, que vivia em nuvens brancas, pequenas e exaustas depois de dias de tanto derramar sobre a Terra em forma de chuva o choro do Espírito Humano.
A Fada descia para a superfície da Terra para ensinar os homens a chorar, ela aparecia do nada, não importava onde a pessoa estivesse, e nas horas mais inesperadas, no lar, no trabalho, na escola, onde quer que fosse, quem tivesse a sorte de receber uma visita da fada logo percebia a presença dela, sentia-se no ar um aroma de terra molhada pela chuva, logo depois tinha a sua mente invadida pela lembrança de todas as pessoas que se desdobraram para que ela tivesse nascido e que se sacrificaram para ela estar viva ali.
Em um instante seus olhos refletiam o azul do céu e se formava, na superfície dos olhos, pequenas e imperceptíveis nuvens brancas que condensavam e faziam verter lágrimas feitas de pura água que escorriam pela face dos homens em forma de gotas refletindo o céu azul, o mesmo céu que os olhos refletiam.