domingo, 22 de agosto de 2010

Eu Não Disse Nada! (Parte II da Revelação).

Falamos, falamos, e falamos, nos expressamos por escrito, por gestos, pelo olhar. E pelo silêncio.
Ás vezes, pelo silêncio, dizemos mais que pela palavra ou pelo texto. A forma de expressão pode mais esconder do que revelar, por que é difícil expressar-se corretamente, sons e palavras confundem, são dúbias, podem ser mal entendidas, o silêncio pode ser a revelação que a palavra não é.
Cuidado com o que não dizes, pode ser ouvido.

Negativa de Autoria. (Parte I da Revelação).

A pessoa te diz:
-"Não! Não é por isso!"
E você pensa: "mas é, é por isso, sim".
Quantas vezes você já não pensou e passou por isso?
Me sinto assim desde que cheguei à maturidade. Em alguns momentos tenho a sensação de que sei mais da pessoa do que ela mesma. Explico: quantas vezes alguém justifica as suas atitudes, motivações, só que as palavras soam irreais, absurdas? 
Conhecemos a pessoa, a observamos, comparamos seu discurso com as suas ações e então? Então que ela está tentando nos manipular, as suas motivações são outras das que ela alega serem  e isso tem me deixado um pouco constrangido.
Não sou de confrontar as pessoas, deixo isso para os reconhecidamente chatos, eu apenas observo, registro, e lamento que as pessoas estejam tentando enganar as outras e a si mesmas. 
Melhor ser transparente, assumir seus erros e limitações, fica patético querer convencer o mundo que a lei da gravidade não existe.

sábado, 14 de agosto de 2010

Ziquilinda.

É assim que a chamo. Hoje ela completa 14 anos de idade. É a minha filha. Te amo minha Ziquilinda, meu anjo.

domingo, 8 de agosto de 2010

Pais. Nossos Dias.

Dia dos Pais é assim: feliz pelo meu dia, pelo carinho de todos aqui em casa, pelos presentes, pelas mensagens dos amigos, e triste pelo pai que já se foi, saudade dele, da sua falta.
Vida se morfosendo, transformando sentimentos e emocionando. Sempre.

Corrida de Pingos.

Na minha cidade o inverno é surpreendente, um dia pode ser frio e seco, no outro, quente e úmido, quando isso acontece as paredes frias do interior da casa ficam úmidas em contato com o ar quente carregado de umidade.
Pequeno, bem pequeno, uma das coisas mais antigas que lembro era da parte de fora da porta da geladeira molhada por causa da umidade do ar. As gotas se distribuíam por toda a porta. As mais altas, quando cresciam, tocavam na do lado, seu peso aumentava e começavam a descer pela porta, no caminho encontravam outras gotas, se somavam, pesavam mais e quanto mais desciam, mais ganhavam velocidade. Eu ficava observando e torcendo para ver qual delas chegava primeiro à parte de baixo da porta.
Tinha tempo, era um menino despreocupado com a vida, querendo aprender como as gotas faziam para se juntar e vencer a corrida, mais ou menos como faço, hoje, suando, me juntando a quem gosto e tentando vencer a corrida.
Tomara que falte muito tempo para eu chegar ao final da porta.

domingo, 25 de julho de 2010

O Caçador de Sombras.

Os anos de vida nos ensinam a ver as pessoas um pouco além do que elas dizem ou demonstram. Um gesto, uma palavra, uma pausa, ou ausência de uma ou outra ou disso tudo revela mais da pessoa do que ela está disposta a nos mostrar. Eu prestava mais atenção a esses detalhes, era mais curioso e necessitava saber mais do outro do que ele estava disposto a dizer.
Anos se foram, a curiosidade se transformou em um superficial sentimento de tédio e, hoje, não mais me interesso pelo subentendido ou o não-verbal como antes.
Quero ficar com o que está dito, o que se mostra à minha frente, sem elocubrações, quebra cabeças mentais complexos, intermináveis, frutos da minha insegurança. Eu quero sentir concretamente, sem distrações. Uma rosa é uma rosa. Um post é um post.
Esta postura me influenciou a não ter mais receio de me mostrar como sou, sem me importar com a opinião alheia. A vida ficou mais leve sem tanto auto policiamento. A série de posts "Necropsia" é resultado dessa nova forma de me ver e de ver o outro.

domingo, 11 de julho de 2010

Ansiedade. (Parte IV da Necropsia).

Eu não sou daqueles ansiosos que, de tanta ansiedade, deixam os outros ansiosos. A ansiedade me atrapalhou mais na juventude, ela me impredia de ouvir música nas fitas cassete, ouvia uma música e, logo, tinha que pular para a outra. Não conseguia ver um filme inteiro na TV, depois de uns minutos eu mudava de canal e terminava frustrado por não poder ver o final da história. Se tivesse que sair de casa para um evento a sua preparação me tomava um bom tempo, seja de logística, seja de preocupação.
Na relação com as pessoas a ansiedade atrapalhava impedindo de vê-las e ao mundo como eles são, eu tinha uma visão apressada e resumida, visão equivocada daquilo que me cercava.
A ansiedade diminuiu com os anos, hoje, consigo ouvir um CD inteiro sem que precise pular de faixa, vejo filmes na TV e, mesmo que sejam ruins, resisto até o final dele. Posso ver o mundo com mais precisão, sem a interferência da ansiedade. Ainda sou ansioso e nunca deixarei de ser, pelo menos não sou mais um escravo cego da ansiedade, eu a vejo, identifico, e luto conscientemente para não deixá-la me dominar. O que me desagrada é que essa constante auto vigilância, consome tempo e energia, para um ansioso isso é bem melhor que deixar a vida com as rédeas assustadoramente soltas.

domingo, 4 de julho de 2010

Auto Imagem. (Parte III da Necropsia).

Eu e o espelho temos um relação dicotômica. Ele me mostra uma imagem e eu vejo outra.
Desde pequeno me sinto deslocado visualmente, as pessoas dizem que eu sou normal, mas me vejo feio. Não me sinto visualmente agradável aos meus olhos e quando me dizem que sou bonito tendo a desqualificar a observação causando um mal estar em que me elogia. 
Sempre me vi assim e não será agora que isso irá mudar. Convivo com esse sentimento o tempo todo, em alguns poucos momentos de lucidez me vejo diferente, mais normal, menos feio, mais agradável aos olhos, raros momentos, preciosos.
Perdi algumas boas oportunidades amorosas por conta da minha auto imagem distorcida,  lamento, mas não ficarei preso a esse passado, ainda é tempo de recuperar alguns sentimentos e sensações que não pude vivenciar, de uma forma simples, socialmente aceitável e naturalmente bela.

sábado, 3 de julho de 2010

Sorobô.

Fui procurar um post antigo aqui do blog, tentei usar a ferramenta de busca no alto da página e não funcionou, fiz a busca "à unha" e, durante a busca, li posts antigos que me deram saudade, deles, ou do que me motivou a escrevê-los.
Requentei o prato e republiquei exatamente como foram escritos no passado. 
São os três textos abaixo.
Bon appetit.

A Harpista.

Texto publicado em 10 de Novembro de 2007.
 
Desde adolescente ela tocava harpa, era quase uma extensão do seu corpo, um membro seu que interagia com o ar, dando vazão aos seus sentimentos.
Sempre que ela estivesse muito alegre ou triste ela tocava harpa, o instrumento transferia para o ar seus sentimentos em forma de notas musicais perfeitamente entrosadas com seu coração, fluindo sincronizadas com as batidas dele. Harmonia perfeita.
Hoje ela pegou a harpa de um jeito diferente, sentou à mesma cadeira de sempre, porém sem roupa, trouxe o instrumento contra seu peito nu, começou a tocar uma melodia linda, seus dedos dedilhavam o instrumento como se o acariciasse em uma relação erótica, os sons eram ritmados, sensuais, arrastados. Sua mente voou para longe, onde a fantasia se tornava música e a música, um ato de amor. O vento que entrava pela janela fazia seus longos cabelos esvoaçarem e transportavam a melodia para o infinito, aquele ponto para onde tudo converge e nada se toca, onde o tempo deixa de existir e o desejo vira a única possibilidade de existência.
A música abruptamente lhe escapou contra a sua vontade, assim como o tempo e o desejo, restando-lhe apenas a imagem viva na sua mente do que um dia poderia ter acontecido.

A Dois e A Sós.

Texto publicado em 5 de Maio de 2007.
 
Manhã de sol na praia.
Duas pessoas caminhando: ele e ela.
Distantes, mas um de encontro ao outro.
Tão distantes que parecem apenas um ponto para o outro.
Se aproximam.
Se olham.
Mais perto, se vêem.
Se interessam.
Estão sós na praia.
Olhares se cruzam.
Estão perto demais para desviar o olhar, e longe demais para sentir medo.
Se cruzam.
Seguem a caminhada.
Sem palavras.
Mesmos movimentos.
Já distantes, se viram.
Um olha para o outro.
Ao mesmo tempo.
Param.
Voltam.
Se beijam.
Se amam.
Mudos.
Acabam.
Se levantam.
Vão embora.
Prosseguem seus caminhos.
Sós.

Ambigüidade. Colocando os Pingos no "U".

Texto publicado em 30 de Setembro de 2007. 



Quando eu disse "não", não quis dizer "não" para sempre.
Quando eu disse "sim" eu não quis dizer "sim" para tudo.
Quando eu disse "gosto do azul" não quis dizer que não gosto do amarelo.
Quando eu disse "vou embora" não quis dizer que não voltarei nunca mais.
Quando eu disse "que legal" eu não quis somente agradar.
Quando eu disse "está bom" não quis dizer que não poderia melhorar.
Quando eu disse, eu acreditei que você ouvisse.
Quando eu disse, eu acreditei que você entendesse.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Nasceu um Blog.

Eu estou feliz, insisti com uma amiga virtual argentina que criasse um blog para que pudesse expressar seu mundo interno, suas vivências, e ela criou! Está no início e sinto que será um sucesso. Não se assustem com o idioma, é de fácil compreensão. 
Visitem o jovem, simpático e querido Narraciones.

domingo, 6 de junho de 2010

O Mendigo das Almas.


Ele ficava sentado todos dos dias, o dia todo, em uma escadaria defronte ao museu, ao lado da biblioteca. Julgava que ali passavam as pessoas com as melhores almas, mais desenvolvidas e sensíveis. Olhava cada pessoa e via sua alma, algumas lhe conviam, olhava com mais atenção e sugava-lhes um pouquinho da sua alma, pouco o suficiente para não fazer falta ao dono, muito para que ele pudesse sobreviver. Pessoas vazias faziam ele atirar uma moeda invisível, que faria as almas daquelas pessoas crescerem. Enquanto aquelas pessoas fossem pobres de alma só a levariam como peso morto, sobrecarga para seus corpos.
Alguns passavam e lhe atiravam dinheiro, não era isso que ele queria ou precisava, ele dava o dinheiro ganho de graça para quem realmente precisasse de dinheiro, seja para sobreviver ou para manter sua vil ilusão.
Ele segue, até hoje, fazendo sua tarefa diária, no mesmo local, para as mesmas pessoas. A escadaria é o lugar mais frequentado da cidade, dizem que é por causa do museu e da biblioteca, eu digo que é pelo mendigo.

Preciso De Um Médico.

Não estou doente e nem pretendo ficar. O que eu quero é um atendimento médico que me transmita confiança e me dê segurança.
Tenho visitado médicos com regularidade, o pai teve câncer de Próstata, não morreu disso, mas tenho que cuidar da carcaça pelo menos uma vez ao ano, ainda mais que estou no segundo tempo do jogo da vida, mais perto do último minuto do que do primeiro.
O que me aborrece é a forma pela qual sou atendido, seja por médico particular, conveniado ou do SUS.
Eu me sinto mal. O médico, qualquer que seja, me atende dando a impressão de que está apressado, talvez por que tenha mais pacientes na sala de espera, talvez porque não esteja a fim de estar ali, talvez porque acredite saber tudo da sua especialidade, não sei, o fato é que eu sinto que ele me empurra para fora da sala após duas ou três perguntas e a emissão da receita ou do pedido de exames.
Não duvido de sua capacidade, mas, agindo assim, ele me deixa inseguro de seu poder de cura. Quero um atendimento menos apressado, mais interessado em minha doença, alguém que pare de pensar no seu próximo compromisso e me olhe com cara de detetive tentando ver o que um leigo não vê, que pelo menos faça cara de interessado e umas perguntas aparentemente sem nexo demonstrando saber bem mais que eu.
Fico parecendo um televisor com fusível queimado, e se além do fusível, queimaram outros circuitos?
Atendimento em cinco, dez minutos não é consulta, é se livrar de paciente.

domingo, 23 de maio de 2010

Culpa. (Parte II da Necropsia).

Convivo com a culpa desde que nasci, culpa de tudo: do que fiz, do que não fiz, do que poderia ter feito.
Duas culpas se sobressaem na minha memória: como agi durante os últimos tempos de vida do pai e da mãe.
A mãe faleceu de uma enfermidade que durou uns poucos anos, eu não tive que cuidar dela, ficou a cargo do hospital, visitava todos os dias, cuidava da papelada, autorizava exames, cirurgias, ficava ao lado dela, ainda assim sinto-me culpado de não poder ter lhe dito o quanto eu a amava, culpado pelo que não fiz, pelo que poderia ter feito, apesar de ter feito tudo que era possível fazer.
O pai passou seus últimos tempos em casa, faleceu em uma clínica, fiz o que pude, não tentei fazer o que não pude e é disso que me sinto culpado.
Em momentos de lúcidez sei que fiz e dei o meu melhor para eles enquanto vivos. Não resolve: culpado.
A culpa me corrói por dentro, é implacável, sádica e incansável. Piora quando faço algo necessário para mim e que causa dor ou desconforto ao outro. Me tortura se despejo raiva no outro, mesmo que seja uma raiva educada e justa. Surge sempre para boicotar meu prazer e me arremessar em um mundo de trevas, sinistro, de autoflagelação. É tão cruel que me faz sentir culpado por falar e escrever sobre a Culpa. Não é ludibriável, ela consegue prever meus próximos passos e se antecipa a eles.
Não sei de onde vem, é antiga e complexa no meu Eu, mais que a ideologia judaico cristã. Eu a sinto e eu sofro com isso.
Não há jurado ou juiz que me absolva, a sentença é sempre a mesma no meu julgamento: interno culpado.

Lágrimas de Gozo.

Escrever é simples, lápis e papel. Escrever sobre sentimento requer sofisticação. Sobre um sentimento intangível é um desatino. Desate o nó, comigo.
Desde bem pequeno que a mulher e suas circunstâncias me mobiliza, transporta para outro mundo, paraliza. Faz de mim súdito de uma Rainha imaginária, ambos presos em um castelo fantástico.
Ele surge sorrateiro e insidioso provocado por uma bela mulher, por um gesto seu, por suas palavras, pela sua roupa, pela falta dela.
A primeira professora, o primeiro olhar, o primeiro nu, o primeiro beijo, o primeiro gozo. Pode nascer deles, pode ser com qualquer uma, qualquer hora, sem hora. Pode ser com a última.
Há um poder na mulher que me fascina, fragiliza e faz surgir este sentimento difícil de definir e medir. Não é possível prever e nem evitar o seu surgimento. Não consigo descrever o que é, de onde vem.
É claro, brando, intrometido. Invade meu pensamento e me faz refém.
Situa-se na fronteira indeterminada e volátil do que é sexual e do que é afetivo, une os úmidos gozo e choro, os indecifráveis pulsão e emoção, território tão no meu íntimo que nem mesmo eu tenho acesso. Domínio privativo da Alma e seu próprio código. Sentimento que provoca um profundo e gratificante prazer. Nirvana etéreo que eu tento tocar. Quanto mais tento, mais me escapa às mãos.
Surge como um maremoto e se vai como um nevoeiro que, ao se deslocar tocado pela leve brisa, dissipa lentamente deixando a folha molhada de saudade.
E eu à mercê do tempo, do sentimento e delas.

Literatura.



Estou lendo. Me sinto pequeno.
O roteiro dele é dirigido por Glauber, por Truffaut, por Kurosawa. Dogma 95.
Eu tenho na mão apenas uma velha câmera super oito e poucos cabelos na cabeça.
Pedra de Roseta. Biblia. Decifra-me ou te leio.
Deusa, mãe, mulher. Delicada como o ar.
Há um risco de esmalte vermelho na capa.
A mesa do computador ficou mais inteligente e sensível sustentando ele.
Eu uso o código binário para ler o subjetivo.
Eu preciso entender.
Eu preciso aprender.
Eu preciso ler.
Eu preciso reler.
Eu Li.
Reli.
Eu, Lili.



domingo, 9 de maio de 2010

Drops Amarelo.



Amanheceu um dia bonito e com uma claridade acima do normal, dia ofuscante. As autoridades científicas logo viraram para o Sol seus instrumentos e notaram que na borda dele haviam pétalas de girassol circundando toda a estrela, e que isso causava o brilho excessivo no céu.
Durante todo o dia o planeta discutiu o assunto, procurou as causas e projetou como seria a vida após a mudança. Nenhuma conclusão, não se sabia de onde surgiram as pétalas, até que uma menininha de cabelos crespos respondeu à questão que ninguém havia conseguido. Ela disse:
- "O Sol desabrochou".