sexta-feira, 10 de março de 2006

Janelas Com Cortinas.

Todos os dias, quando acordamos, abrimos as janelas de nossos olhos. Não temos que optar. Abrimos, por que temos que abrir para viver. Com elas fechadas não deixamos a vida entrar.
A paisagem que vemos por estas janelas pode ser muito bonita e agradável: céu azul, uma mata bem verde, um riacho de águas claras e límpidas e um sol quente e brilhante que, com a sua luz, ilumina tudo na sua exata cor. Há dias em que este cenário não é tão maravilhoso assim: o céu está nublado, cinzento, a mata ainda é verde, mas parece sem vida, o riacho tem águas mais escuras e profundas e a ausência do sol veste tudo com um matiz escura e triste.
Podemos optar por aquilo que nos dá prazer, fugindo do que nos é desagradável e viver aquele dia, ou aqueles dias, sem olhar a paisagem que estas janelas nos mostram por que o cenário não nos agrada, passamos a focalizar nossos olhos para dentro de nós, buscando no nosso interior um pouco de prazer e conforto que a paisagem lá fora não nos dá. O cenário interno é tão ou mais rico que o de fora da janela: também possui céu, mata, riacho e sol. Os dias no mundo interior, por vezes, são magníficos e, por outras, são cinzentos, tristes, melodramáticos.
Assim como o mundo exterior, este mundo interior permite expedições onde descobrimos a cada dia novas regiões que antes não havíamos explorado, facetas de nossa personalidade que nunca havíamos tomado contato.
Nos dias que passei sem Internet voltei meus olhos para dentro de mim, ainda mais do que faço regularmente. Desliguei o monitor do computador que me mostrava uma paisagem virtual para voltar meus olhos para um mundo real e, também, virtual que existe dentro de mim. Mundo, este, que é meu, rico e gostoso, às vezes amargo e triste, porque não? Mas, sobretudo, meu, o que me faz ter um carinho especial por ele e dedicar um bom tempo desbravando-o.
A exploração deste mundo interior me dá tanto prazer quanto explorar o mundo real que existe lá fora, ou o virtual que a Internet proporciona. Conserto algo aqui, limpo algo ali que há muito precisava ir para o lixo, ou movo algo que precisava ser colocado em um local de destaque numa estante interna. Admiro o que eu ainda não havia me dado conta que era belo ou rememoro imagens antigas de pessoas que não fazem mais parte da minha paisagem, mas que um dia foram muito queridas por mim.
Há muito o que explorar dentro de mim, muitas respostas estão por serem encontradas e, assim como um cientista que avança na sua ciência, quanto mais olho para dentro de mim, mais vejo que há por descobrir.
Os dias cinzentos, tanto lá fora como dentro de mim, não são eternos. Lá fora, de repente, sopra um vento e as nuvens são levadas para longe escurecendo outras paisagens e a paisagem triste é substituída por um sol intenso, luminoso e quente. A verdade é que, hoje, o mundo real não está me proporcionando tanto prazer quanto eu gostaria de ter e o mundo interno é um refúgio agradável nestes dias em que as janelas me mostram uma paisagem sombria e sem perspectiva. Uso o mundo interno como abrigo para este tempo de intempérie e como combustível para revitalizar as forças e soprar as nuvens carregadas para longe.
E a sua janela? Que paisagem mostra? Você, de vez em quando, olha para dentro de si? E olha com a mesma atenção e boa vontade que olha a paisagem de fora? Me mostra um pouco da sua paisagem para que eu possa me deliciar com ela.

Um comentário:

Fabi disse...

Minha janela anda habitada por passarinhos cantando...
Depois de chuvas e trovoadas, eles vêm pra comtemplar o arco íris.
Minha cortina, meio aberta, meio fechada... procurando um meio termo realista, que me faça feliz e nãoapenas me deixe feliz ;)

Beijos, que bom que voltou.