domingo, 26 de dezembro de 2010

O Perguntinha.

Por quê? Quando? Quem? Como? Dá para sobreviver sem perguntar, independente das respostas? Perguntar ofende?
Quando eu era criança bombardeava meus pais com perguntas e não tinha assunto que eu os poupasse, eles deviam ter um pouco de Jó na personalidade para me aguentar, especialmente meu pai que era a minha "vítima" preferida, era o que mais respondia e o que mais levava chumbo.
Crescido, vi que perguntas tinham personalidade própria, poderiam ser doces, ásperas, inocentes, maldosas, persecutórias, acusatórias, salvadoras, dependendo da sua formulação, da entonação usada, da hora que foi feita.
Minha relação com a pergunta mudou, mais cuidado na hora de formulá-la, para quem fazê-la e em que momento. Não perdi a curiosidade e ganhei o medo de fazê-la por causa da repercussão que teria no outro, sem perguntas, perdi um pouco do meu senso de aventureiro e me rendi ao mundo de respostas prontas, padronizadas, respostas "para a imprensa", respostas oficiais, sem a minha alegria de ver alguém se sentir mais inteligente e responder as minhas perguntas que nunca silenciaram.
A principal pergunta, a de mais difícil resposta e, também, a contraditoriamente menos necessária segue sem resposta e assim ficará para sempre: quem sou eu? Se eu souber a resposta a vida perderá a graça.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Natal Antecipado.

Ruas cheias, lojas lotadas de pessoas, shopping sem vagas no estacionamento, loucura de Natal, corre prá lá e prá cá, catando um dinheiro aqui e ali para as compras.
Eu já tive dias que antecederam o Natal assim, bem assim, e piores, o Natal deste ano vai ser diferente por um singelo acontecimento.
Um conhecido saiu de casa para trabalhar com a sua esposa, as filhas foram para a escola, ao retornarem para casa, a família viu que ela havia se incendiado, perderam tudo, só ficaram com a roupa do corpo, nada aproveitável restou. Fiquei sabendo disso e recolhi o que tinha em casa e que poderia ser doado, acionei pessoas próximas que também contribuíram,  reuni as doações e enviei, talvez não tenhamos resolvido os problemas daquela família, amenizamos um deles, roupas e calçados, pelo menos.
Passei uns dias me sentindo muito bem como nunca havia me sentido em Natais passados quando havia muitos presentes, materiais, que dei e recebi.
Este Natal foi diferente, não gastei nada e recebi muito mais que em todos os outros, a satisfação de ter ajudado alguém que poderia ter um Natal triste e desesperançoso. Sei que Natal é todo o dia, que não há dia para ser generoso.
Este Natal foi diferente porque, pela primeira vez, o meu Natal aconteceu perto do Natal.

Doce Deleite.



Na semana que passou me reuni com amigos no Restaurante Dado Bier no Bourbon Shopping Country.
Bons momentos tem sempre como protagonistas pessoas, e este foi um deles. Conversa solta, divertida, leve. Tive a oportunidade de conhecer muitos do grupo que só me relacionava via Internet e não houve surpresa, a impressão que tive no virtual se concretizou no real e a noite foi muito agradável, aquelas onde o tempo parece andar mais rápido, ali, que no resto do universo.
Uns goles de suco para molhar a garganta e facilitar o verbo. A comida estava ótima. O destaque foi a sobremesa, um mousse de doce de leite delicioso, só por ele vale um retorno ao restaurante, bem acompanhado, claro.

domingo, 28 de novembro de 2010

Por Enquanto.

Enquanto o sol viaja do outro lado da Terra,
Meus sonhos desfilam absurdos na grande cama de lençóis brancos.
Enquanto a Lua mostra o mesmo rosto,
Meus sonhos desnudam todas as minhas faces.

Levanto meu nariz para respirar uma ideia criativa,
Antes de mergulhar em um mar de obviedades.

Enquanto suspiro por lugares comuns,
Experimento a sensação de levitar.

Doses de tempo em intervalos de segundos.
Terceiras intenções em forma de amor.

Enquanto relógio e coração batem juntos
Nenhuma dor adianta.

Eu e o tempo andamos lado a lado

Enquanto a vida segue
Meio que por encanto.


(À querida Li, que comete a insensatez de me estimular a escrever).

domingo, 14 de novembro de 2010

À Vida, Com Carinho.

De um lado da rua a numeração é par, do outro é ímpar. Dar bom dia não é mania de quem tem TOC. Os parafusos extras que vem dentro da embalagem não são para por no lixo.
Nascemos, nem nos perguntam, e nos matriculam na escola virtual da vida. Nela não há um professor personificado, o quadro negro é uma grande tela onde é projetada a nossa vida e vivências. Os conteúdos nos são mostrados nessa grande tela o tempo todo. Há provas surpresa, só que não há nota para passar, todos alunos avançam sabendo ou não os conteúdos.
Como em uma escola verdadeira, há aqueles que passam com nota máxima, há os que passam colando e há os que não aprendem nada, ainda assim, vão para a série seguinte.
A vida nos confronta com ensinamentos todos os dias, o dia todo. Quando estamos sozinhos, quando acompanhados, na nossa casa, na rua, no ônibus, no trabalho, na quadra de esportes, sozinhos na praia deserta. É um ensinamento na maioria das vezes sutil, algumas vezes grosseiro como um tapa violento no rosto.
Não há como fugir da lição. E aprendemos. Ou não.
Há aqueles que insistem em não aprender o que a vida ensina, fazem-se de cegos e surdos, como se não fosse com eles, onipotentemente, como se já soubessem de tudo o que lhes basta para viverem. São almas pobres, que vagam em seu delírio de sapiência restrita. Gazearam à aula de humildade, pois acreditavam que já conheciam a matéria.
A reprovação vem sempre, com o insucesso, a solidão e a amargura.
Uma maçã deliciosa à vida, com carinho.

domingo, 17 de outubro de 2010

Uma Casa Sem Crianças.

Na semana que passou tivemos a visita de um menininho, sete anos de idade, amigo da Isabelle que se sentiu indisposto na escola, veio para cá porque a sua mãe estava no trabalho, impossibilitada de ficar com ele.
A casa ficou mais movimentada, ruidosa. A voz fininha dele se destacava como um som não reconhecido, diferente, vibrante. Tive que me movimentar na casa prestando atenção para não esbarrar nele porque é pequenino e não constava na lista de pessoas que a gente controla a posição, como os moradores da casa.
Me dei conta de como essa casa ficou menos alegre com o passar dos anos, não há mais crianças morando aqui, as conversas tem um enfoque adulto, as brincadeiras deixaram de ser físicas e passaram a ser verbais, irônicas ou debochadas, piadas sofisticadas que só adulto entende.
Sinto falta da agitação febril da criança e do clima de alegria que ela espalha por uma casa, não é uma saudade intensa a ponto de querer de volta esse clima, é saudade dos tempos que esta casa era mais inocente, simples, onde o problema mais sério era explicar uma piada.

domingo, 10 de outubro de 2010

O Monstro Alheio.

Eu estou diferente, não sei se é a idade, a tal maturidade.
Nas minhas vivências por aí, encontro pessoas que se esquecem de deixar em casa sua amargura, raiva, estupidez, e as despejam em mim ou em quem encontrar pela frente. No passado eu me incomodava com isso, levava à sério, achava que era para mim, emputecia, estragava meu dia e passava um bom tempo ruminando o caso numa tentativa de dar uma resposta ao ataque inexplicável. Eu trazia para mim o problema alheio transformado em ofensa.
Passado os anos, e com alguma experiência de vida, me dei conta que a maioria dos ataques que recebo, seja de conhecidos ou desconhecidos, são motivados por problemas deles e não tem nenhuma relação comigo, sacar isso me fez perder toda a vontade de dar uma resposta à criatura que me ofende, passei a me sentir mais tranquilo, é como se não fosse comigo o incidente. Faço um comentário nada-a-ver e saio deixando a pessoa perdendo seu tempo, e felicidade, alimentando os seus monstros.
Enquanto me alimento de vida.

domingo, 3 de outubro de 2010

O Baile de Máscaras.


O olhar dele cruzou com o dela, as máscaras só permitiam ver o olhar de um e de de outro. Se interessaram, sorriram, disfarçados era melhor para se aproximarem, menos riscos, ansiedade. A conversa fluiu leve, descompromissada.
Sem perceberem, já estavam mais próximos do que se não estivessem mascarados. O baile se aproximava do final, depois de uma longa dança era hora de verem seus rostos. Medo. Ansiedade. Tudo aquilo que havia sido esquecido até então por causa das máscaras reaparece.
Decidem não conhecer o rosto de um e de outro para não estragar o que estava tão bom e combinaram que assim seria.
Passaram o resto da vida juntos e felizes, cada um com sua máscara, a fachada perfeita para um casamento feliz.

domingo, 26 de setembro de 2010

Cheio.

Desânimo.
Tá bom, eu sei que eu não poderia deixar nas mãos dos outros o meu destino e dos que amo, sei que só poderemos desenvolver o país com liberdade, democracia plena, eleições limpas, mas não dá. Não consigo me mobilizar para achar um candidato a qualquer cargo que justifique ir até à urna e votar.
Eu quero um candidato inovador, criativo, peitudo, honesto, carismático, apoiado por todos que pensem com o cérebro. Sei que é utopia, não é assim que as coisas funcionam e não dá para tentar achar soluções mágicas para problemas mundanos e complexos, mas é isso que eu quero, que eu sonho.
Vou ter uma tarefa difícil na hora de votar, quero aproveitar a oportunidade dia 3 e mandar uma banana para aqueles safados que passam a vida política me enrolando, jogando para o público e enriquecendo, não quero desperdiçar a chance de tentar consertar o tanto que estrá errado e que serve a quem nos domina e explora.
Estou cansado de candidatos estereotipados, engendrados em laboratórios de markting e que me tratam como se eu fosse um bocó incapaz de perceber tudo isso.
Vontade de votar no Cacareco.

Inverno Sem Gripe.

Todo o inverno eu era premiado com gripes e resfriados, nariz congestionado, tosse, mal estar, dor pelo corpo, desânimo.
Neste inverno não aconteceu nada disso, passei invicto por ele, nenhuma gripe ou resfriado.
No meu trabalho vários colegas foram à nocaute por causa da gripe, ou faltavam ao serviço ou saíam mais cedo, mesmo aqueles mais resistentes.
Faz parte do meu trabalho atender ao público, e há pessoas que conseguem tossir em minha direção, quando estão próximos a mim, faço cara feia e fico de lado para ver se o  palerma se dá conta do que fez. A maioria não, ou se fazem de loucos.
Estou esperando uma gripe, porque o vírus não vai me deixar sossegado, deve estar planejando um ataque surpresa na primavera.
Sigo me agasalhando um pouco mais do que devia, parabéns ao meu sisterma imunológico, pelo menos uma vez na vida resistiu ao inverno que foi típico com frio, vento e chuva.
Até o próximo espirro.
Saúde.

domingo, 19 de setembro de 2010

Manhãs de Domingo.

Domingo de manhã é um momento único da semana, como o começo da segunda ou a noite do sábado.
Manhãs de domingo são muito parecidas comigo: calmas, tranquilas, sem ruídos, correria, movimento. Elas tem um aroma peculiar, cheiram melhor que as manhãs de outros dias. Na minha cidade temos o hábito do churrasco e, antes das dez horas da manhã, já dá para sentir o cheiro do carvão, ou lenha, queimando e de carne assando no espeto.
Acordo cedo aos domingos, hábito, a casa toda dorme, me encontro comigo mesmo, leio, vejo filmes, reflito, sem interferência. A sensação é ótima, de buscar a mim mesmo, durante a semana é impossível: trabalho, barulho, pessoas elouquecidas sem saber em busca do quê ou de quem me contaminam e me deixam agitado e desconcentrado.
Manhãs de domingo são deliciosas, inesquecíveis.

domingo, 5 de setembro de 2010

Sonhos Que Não Podemos Sonhar.

Ser humano é sonhar, depositar no futuro a crença que o dia vai ser melhor e a felicidade se instalará.
Duro é não sonhar, deixar que a realidade trucide a esperança e torne a pessoa um zumbi esperando a morte.
Tem algum sonho que é tão distante que não possa ser sonhado? Algo que pertenca ao mundo dos humanos e que possa ser excluído por julgarmos inalcançável?
Não sei, mas só a desistência antecipada de sonhá-lo me faz crer em uma morte espiritual que se espalha rapidamente e que pode levar à morte física. 
Sonhos são vida.
Viva-os.

domingo, 22 de agosto de 2010

Eu Não Disse Nada! (Parte II da Revelação).

Falamos, falamos, e falamos, nos expressamos por escrito, por gestos, pelo olhar. E pelo silêncio.
Ás vezes, pelo silêncio, dizemos mais que pela palavra ou pelo texto. A forma de expressão pode mais esconder do que revelar, por que é difícil expressar-se corretamente, sons e palavras confundem, são dúbias, podem ser mal entendidas, o silêncio pode ser a revelação que a palavra não é.
Cuidado com o que não dizes, pode ser ouvido.

Negativa de Autoria. (Parte I da Revelação).

A pessoa te diz:
-"Não! Não é por isso!"
E você pensa: "mas é, é por isso, sim".
Quantas vezes você já não pensou e passou por isso?
Me sinto assim desde que cheguei à maturidade. Em alguns momentos tenho a sensação de que sei mais da pessoa do que ela mesma. Explico: quantas vezes alguém justifica as suas atitudes, motivações, só que as palavras soam irreais, absurdas? 
Conhecemos a pessoa, a observamos, comparamos seu discurso com as suas ações e então? Então que ela está tentando nos manipular, as suas motivações são outras das que ela alega serem  e isso tem me deixado um pouco constrangido.
Não sou de confrontar as pessoas, deixo isso para os reconhecidamente chatos, eu apenas observo, registro, e lamento que as pessoas estejam tentando enganar as outras e a si mesmas. 
Melhor ser transparente, assumir seus erros e limitações, fica patético querer convencer o mundo que a lei da gravidade não existe.

sábado, 14 de agosto de 2010

Ziquilinda.

É assim que a chamo. Hoje ela completa 14 anos de idade. É a minha filha. Te amo minha Ziquilinda, meu anjo.

domingo, 8 de agosto de 2010

Pais. Nossos Dias.

Dia dos Pais é assim: feliz pelo meu dia, pelo carinho de todos aqui em casa, pelos presentes, pelas mensagens dos amigos, e triste pelo pai que já se foi, saudade dele, da sua falta.
Vida se morfosendo, transformando sentimentos e emocionando. Sempre.

Corrida de Pingos.

Na minha cidade o inverno é surpreendente, um dia pode ser frio e seco, no outro, quente e úmido, quando isso acontece as paredes frias do interior da casa ficam úmidas em contato com o ar quente carregado de umidade.
Pequeno, bem pequeno, uma das coisas mais antigas que lembro era da parte de fora da porta da geladeira molhada por causa da umidade do ar. As gotas se distribuíam por toda a porta. As mais altas, quando cresciam, tocavam na do lado, seu peso aumentava e começavam a descer pela porta, no caminho encontravam outras gotas, se somavam, pesavam mais e quanto mais desciam, mais ganhavam velocidade. Eu ficava observando e torcendo para ver qual delas chegava primeiro à parte de baixo da porta.
Tinha tempo, era um menino despreocupado com a vida, querendo aprender como as gotas faziam para se juntar e vencer a corrida, mais ou menos como faço, hoje, suando, me juntando a quem gosto e tentando vencer a corrida.
Tomara que falte muito tempo para eu chegar ao final da porta.

domingo, 25 de julho de 2010

O Caçador de Sombras.

Os anos de vida nos ensinam a ver as pessoas um pouco além do que elas dizem ou demonstram. Um gesto, uma palavra, uma pausa, ou ausência de uma ou outra ou disso tudo revela mais da pessoa do que ela está disposta a nos mostrar. Eu prestava mais atenção a esses detalhes, era mais curioso e necessitava saber mais do outro do que ele estava disposto a dizer.
Anos se foram, a curiosidade se transformou em um superficial sentimento de tédio e, hoje, não mais me interesso pelo subentendido ou o não-verbal como antes.
Quero ficar com o que está dito, o que se mostra à minha frente, sem elocubrações, quebra cabeças mentais complexos, intermináveis, frutos da minha insegurança. Eu quero sentir concretamente, sem distrações. Uma rosa é uma rosa. Um post é um post.
Esta postura me influenciou a não ter mais receio de me mostrar como sou, sem me importar com a opinião alheia. A vida ficou mais leve sem tanto auto policiamento. A série de posts "Necropsia" é resultado dessa nova forma de me ver e de ver o outro.

domingo, 11 de julho de 2010

Ansiedade. (Parte IV da Necropsia).

Eu não sou daqueles ansiosos que, de tanta ansiedade, deixam os outros ansiosos. A ansiedade me atrapalhou mais na juventude, ela me impredia de ouvir música nas fitas cassete, ouvia uma música e, logo, tinha que pular para a outra. Não conseguia ver um filme inteiro na TV, depois de uns minutos eu mudava de canal e terminava frustrado por não poder ver o final da história. Se tivesse que sair de casa para um evento a sua preparação me tomava um bom tempo, seja de logística, seja de preocupação.
Na relação com as pessoas a ansiedade atrapalhava impedindo de vê-las e ao mundo como eles são, eu tinha uma visão apressada e resumida, visão equivocada daquilo que me cercava.
A ansiedade diminuiu com os anos, hoje, consigo ouvir um CD inteiro sem que precise pular de faixa, vejo filmes na TV e, mesmo que sejam ruins, resisto até o final dele. Posso ver o mundo com mais precisão, sem a interferência da ansiedade. Ainda sou ansioso e nunca deixarei de ser, pelo menos não sou mais um escravo cego da ansiedade, eu a vejo, identifico, e luto conscientemente para não deixá-la me dominar. O que me desagrada é que essa constante auto vigilância, consome tempo e energia, para um ansioso isso é bem melhor que deixar a vida com as rédeas assustadoramente soltas.