terça-feira, 27 de dezembro de 2005

Feitos de Silêncio e Sons.

Conciliar a herança educacional de duas famílias nem sempre é fácil.
A minha família tinha suas particularidades. Uma delas era a forma de se comunicar. Sempre singela e discreta, mas carregada de significado e significantes. Poucos assuntos eram tratados explícitamente com todas as letras, a comunicação cotidiana se dava de forma subliminar, subterrânea, ou implícita. Poucas palavras eram ditas. Mais valia um gesto, um olhar e, sobretudo, o silêncio, este falava muito mais que as palavras, tinha mais força que o som, por mais claro e eloqüente que fosse o som.
Esta característica familiar tinha algumas desvantagens. O significado de algum gesto, ou do silêncio, poderia ser mal interpretado e nem sempre esclarecido, perpetuando o mal entendido, ou então, poderia haver omissões, gerando, também, mal entendidos.
Hoje, eu vejo a palavra ser vilipendiada aqui em casa, ela está desvalorizada e vulgarizada pelo uso excessivo, mas o que mais me incomoda não é isto, é que o significado das palavras se vai com o seu uso abusivo. Uma pena. A palavra tinha tanto valor, o som delas me chamava a atenção, era solene e sempre importante. Hoje, o som entra por um ouvido e se perde na caixa craniana, reflete nos ossos, não encontra onde repercutir e se assentar junto com o seu valor e significado. Fica perdida num vácuo de idéias e simbolismo.
Nem o silêncio tem mais o seu ar solene e importante.

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