terça-feira, 20 de dezembro de 2005

Sem Bússola e Sem Sextante.

Este Natal será o primeiro que passarei sem a presença de meu pai e de minha mãe. Ela faleceu em 2001 e ele, em fevereiro deste ano, 2005.
Eu era mais ligado a minha mãe. A minha personalidade é muito parecida com a dela, o jeito de me portar, o de falar, o de pensar, o de gostar e o de me relacionar com as pessoas e com o mundo.
Do meu pai eu herdei o rosto, sou bem parecido com ele.
Ambos eram um ponto de referência para mim, mesmo quando adulto. Minha mãe era muito sábia e experiente, não que ela tivesse vivenciado tantas experiências assim na sua vida, mas possuía uma capacidade singular de observar o mundo à sua volta, aprender com o que via e interrelacionar tudo isso. Graças à convivência que tive com ela, absorvi os seus ensinamentos que, na maioria das vezes, não me eram passados de forma explícita, quase sempre de forma implícita e sutil, mas com força suficiente para que eu notasse e absorvesse o que ela queria me transmitir.
O meu pai foi pouco presente enquanto pai, foi mais um financiador, mas sempre senti que me amava, assim como a mãe, embora ele tivesse muita dificuldade para transmitir este amor.
Eu poderia ter tratado, ambos, melhor. Sinto que fui muito frio com eles, deveria ser mais afetuoso, mais compreenssivo, mais tolerante, menos impulsivo e menos exigente.
Hoje sinto muito a falta deles, eles eram o meu Norte. Sem eles, me sinto por vezes perdido, sem um paradigma, me sinto desamparado, abandonado, especialmente naqueles momentos em que a vida parece me dar as costas e me abandonar a minha própria sorte neste mar traiçoeiro que é viver.
O Natal é uma festa típicamente triste e este Natal será particularmente um pouco mais triste sem meus pais, mas a vida, ao mesmo tempo que tira, dá. Me deu filhos, lindos. Hoje vivo mais em função deles e do futuro deles, porém não esqueço o passado que serviu para me formar como pessoa e como homem e me permitiu ser o bom pai que sou, fundamental para o desenvolvimento dos filhos que tanto amo.
É muito ruim navegar neste mar sem um pai ou uma mãe, sem uma bússola ou um sextante que eles simbolizavam, só com o senso de orientação nato que tenho e que nem sempre é suficiente para me levar a um porto seguro, longe das armadilhas que existem em cada um dos infinitos mares que compõem a Vida.

Um bom Natal para você. Muita felicidade, saúde e Paz, a você e a todos que você ama.

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